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Foto: Otávio Praxedes/Agência Câmara

Sérgio Weslei algemado: resposta indignou os parlamentares.

O advogado Sérgio Weslei da Cunha, acusado de comprar um depoimento secreto prestado à CPI do Tráfico de Armas, foi preso ontem por desacato aos parlamentares durante a sessão da comissão, em que houve acareação entre ele, a advogada Maria Cristina de Souza Rachado e o ex-funcionário terceirizado da Câmara Arthur Vinícius Pilastre Silva.

Este último havia confessado ter vendido a cópia de depoimento de delegados paulistas aos dois advogados. Os depoimentos foram repassados ao PCC e, segundo a polícia, deflagraram a onda de ataques do crime organizado em São Paulo.

Cunha evitava responder a perguntas dos parlamentares e irritou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que o provocou: ?O senhor aprendeu rápido com a malandragem?. Cunha retrucou: ?Aqui a gente aprende rápido.? Os congressistas levaram alguns segundos para registrar o significado da resposta, mas logo reagiram e pediram ao presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), a prisão de Cunha.

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O advogado tentou consertar. Disse que estava querendo dizer ?aqui, no Brasil?, e não no Congresso, mas não adiantou. O advogado foi retirado algemado da sala da CPI e levado ao Departamento de Polícia Legislativa (Depol). Cunha chamou dois representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para acompanharem o depoimento e foi liberado em seguida, depois de assinar um termo em que se compromete a comparecer à Justiça quando solicitado. Um processo por desacato será aberto na Justiça Federal.

De acordo com Faria de Sá, o delito em si é leve. ?Mas agrava os outros dois processos a que Cunha já responde?, afirmou. Um deles, por furto. O outro, por estelionato, com duas agravantes por coação de testemunhas. O advogado ficou irritado com a prisão. ?Foi um ato arbitrário?, disse. ?Eu não estava querendo ofender o Congresso. Reagi apenas a uma provocação.? Cunha é advogado de Leandro Lima de Carvalho, acusado de pertencer ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Acareação

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Depois de quase quatro horas de acareação, muitas contradições dos advogados e muita irritação dos parlamentares, o deputado Moroni Torgan cobrou da Justiça a prisão dos dois advogados, acusados de integrarem o PCC. Na semana passada a CPI pediu a prisão preventiva deles, que foram acusados de comprar depoimento de sessão sigilosa da comissão na qual o diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) de SP, Godofredo Bittencourt Filho, e o delegado Ruy Ferraz traçaram um raio-X do PCC.

O pedido de prisão aguarda decisão na 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília. ?Não temos dúvida do envolvimento dos dois com o crime organizado?, afirmou Moroni. ?Olha a frieza de vocês (Maria Cristina e Sérgio Weslei da Cunha). A Justiça tem de decretar essa prisão preventiva logo?, continuou o deputado.

Os dois advogados negam pertencer ao PCC, ter subornado o funcionário para obter os depoimentos sigilosos, pagado pela cópia e divulgado o teor da gravação. Moroni concluiu que o crime de corrupção ativa, do qual os dois são acusados pela CPI, está qualificado porque se dá no oferecimento ou promessa de dinheiro. ?Isso ficou comprovado. A prova material é o CD da gravação que vocês dois (advogados) assumiram que botaram a mão? afirmou o presidente da CPI.

Pilastre Silva, ex-funcionário de empresa que presta serviço à Câmara, que confessou ter vendido a cópia da gravação aos dois advogados por R$ 200,00, manteve a versão apresentada em seu depoimento na CPI. Ele foi ontem à comissão usando colete à prova de balas e acompanhado por agentes da Polícia Federal armados com fuzis. Pilastre Silva está no programa de proteção a testemunhas. Os deputados da CPI ressaltaram que, enquanto as declarações de Silva foram consistentes, as dos advogados foram contraditórias, incoerentes e imprecisas.

Dupla responde processo na OAB

São Paulo (AE) – Os advogados Sérgio Weslei da Cunha e Maria Cristina Rachado terão que se apresentar no dia 19 de junho no Tribunal de Ética e Disciplina da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo. Os dois são acusados de comprar de um técnico de som que prestava serviço à Câmara de Deputados uma gravação da sessão sigilosa na qual a CPI do Tráfico de Armas ouviu os delegados do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de SP, Godofredo Bittencourt Filho, e o delegado Rui Ferraz.

Cunha e Maria Cristina são suspeitos de repassar as informações ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O procedimento ético disciplinar foi aberto quarta-feira e pode demorar quatro meses para ser concluído. O presidente do Tribunal, Braz Martins Neto, disse hoje que a prisão de Cunha na CPI deve ser levada em consideração pelo juiz que for julgá-lo. A punição para os advogados vai de suspensão temporária até a expulsão da OAB.

Presidente da CPI ameaçado

Brasília (AE) – O deputado Raul Jungman (PPS-PE), integrante da CPI do Tráfico de Armas, na Câmara, disse ontem que uma testemunha da comissão telefonou para a Secretaria da CPI alertando que o presidente da comissão, deputado Moroni Torgan, tenha cuidado, porque sua vida estaria correndo risco.

Segundo relato de Jungman, a testemunha pediu que o delegado da Polícia Federal, José Antonio Dornelles, que acompanha os trabalhos da comissão, e o secretário da CPI, Manoel Alvim, ?tomem cuidado com a vida de Moroni?.

Jungman contou que se trata de uma testemunha que já colaborou com a CPI no passado e que pertence ou pertenceu ao crime organizado. O delegado Dornelles, falando a jornalistas ao lado de Jungman, afirmou que eles levam a sério esse tipo de ameaça.

Jungman afirmou que qualquer ameaça à integridade de Moroni Torgan é ?uma ameaça à CPI e ao Congresso?, e acrescentou: ?Não vamos permitir que nos acovardem nem que executem a ameaça?, concluiu.