Brasília – Representantes da juventude na 7º Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescentes comentaram nesta terça-feira (4) o caso da adolescente de 15 anos que foi vítima de violência sexual enquanto esteve presa em uma cela com homens em carceragem da Polícia Civil no Pará. Selecionado como delegado pelo estado de Mato Grosso do Sul, o estudante William Schmitt espera que o caso seja tratado com rigor e exige punição dos envolvidos.
?Isso é uma coisa que não poderia acontecer nunca. Tem que haver uma punição severa e exemplar aos responsáveis e aos que deixaram isso acontecer. Esse ato foi totalmente desumano?, avalia o rapaz de 17 anos, morador do município de Maracaju.
Quem compartilha da indignação de Schimtt é o também estudante Emanuel Paullino Sousa, representante do município de Zé Doca, no Maranhão. Ele, que tem a mesma idade da vítima, diz ter ficado chocado com as agressões e cogita a existência de casos semelhantes em outras partes do país.
?Acho que isso é só 1% do que vem acontecendo no Brasil com crianças e adolescentes. Esse crime foi horrendo e é inadmissível que isso ocorra com os adolescentes. Foi bom esse caso vir à tona porque agora as autoridades tomam consciência dos crimes que acontecem contra crianças e jovens brasileiros?, afirmou.
Coordenadora da conferência, a subsecretária da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Carmen Oliveira, demonstrou repúdio ao caso e disse que o mais importante agora é cuidar da recuperação da menina.
?Nossa preocupação nem é tanto a responsabilização, que também é importante, mas sim a proteção da adolescente e de sua família, que ainda sofrem riscos. Inserimos a jovem no programa de crianças e adolescentes ameaçados de morte para que possa recomeçar a vida com seus familiares?, garantiu.
O especialista das Nações Unidas Paulo Sérgio Pinheiro também se posicionou sobre o caso. Ele afirma que os responsáveis pela prisão da menina tinham consciência das agressões que ela poderia sofrer.
?Pessoalmente, acho que esse caso não é único. O chocante é que, em plena democracia, um delegado possa jogar uma adolescente numa cela com leões. Isso é quase como colocá-la numa jaula. Era previsível que isso aconteceria. Eles [policiais] sabiam?, analisou Pinheiro, após apresentar a versão em língua portuguesa do Relatório Mundial sobre Violência Contra a Criança.
Na abertura da conferência, ontem (3), em Brasília, o presidente Lula classificou o acontecimento como "abominável" e disse que era uma situação difícil de se compreender por " parecer coisa de ficção".