Brasília e Rio (ABr) – O depoimento do advogado Marcus Valerius Pinto à sub-relatoria de Contratos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios foi adiado para o dia 17 deste mês, uma terça-feira. O sub-relator de Contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), informou que o advogado não compareceu à comissão sob a alegação de não ter recebido a convocação a tempo. Cardozo alertou que, se ele não se apresentar na nova data, vai determinar a condução coercitiva (à força).
O segurança Francisco Marques Carioca, que trabalha para a empresa Cortez Câmbio e Turismo, também reconvocado para ontem, não compareceu. No último dia 28, Carioca afirmou à CPMI que fez saques de R$ 1 milhão nas contas da empresa aérea Skymaster a mando do advogado Marcus Valerius Pinto.
Cardozo desconfia que os saques foram feitos para pagamento de propina. Em nota, a Skymaster negou as acusações e afirmou que todos os contratos que obteve com os Correios foram obtidos em licitações públicas transparentes. O sub-relator disse que Carioca ficou sabendo que Marcus Pinto não compareceria à comissão e resolveu não ir também. "É um comportamento desrespeitoso", disse Cardozo. O deputado determinou que ele seja trazido à força no próximo dia 17.
Cardozo disse não ter dúvidas de que havia um conjunto de irregularidades na empresa que trouxe "lesão grave" ao erário público. "Isso já está provado com relação a empresas contratadas para serviços com o Correio Aéreo Noturno."
Chefe do setor financeiro diz que apenas cumpria ordens
Brasília (Ag.Câmara) – O chefe do setor financeiro da Skymaster, Reginaldo Reges Menezes Fernandes, afirmou que cerca de R$ 4,3 milhões sacados das contas da empresa eram destinados a pagamentos de salários e de fornecedores. Fernandes não conseguiu, entretanto, indicar nenhum funcionário que recebesse salário em dinheiro e informou que ele mesmo recebe seus salários por meio de crédito em conta bancária. Segundo ele, os saques eram feitos por determinação do diretor-financeiro da Skymaster, João Marcos Pozzetti, a quem o dinheiro era repassado. "Eu sou simplesmente um funcionário e cumpro ordens do meu diretor. O meu papel de empregado foi feito corretamente", disse Fernandes.
O único fornecedor que recebia em dinheiro e cujo nome foi lembrado por Fernandes é a empresa Force Field, sediada nas Ilhas Virgens e vinculada à própria Skymaster. Fernandes disse que os pagamentos à empresa se referiam a leasing de aeronaves adquiridas pela Skymaster. Ele não soube explicar o motivo de os pagamentos serem feitos em dinheiro.
O sub-relator de Contratos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), estranhou que esses saques tenham sido interrompidos a partir de abril do ano passado, quando surgiram denúncias contra a Skymaster. Dos R$ 4,3 milhões, R$ 1,3 milhão foram sacados por Fernandes e o restante pelo motorista Éder Jouber Ribeiro Cabo Verde, que depôs antes.
Dúvidas
Parlamentares presentes na reunião duvidaram do depoimento de Reginaldo Fernandes. O senador César Borges (PFL-BA), por exemplo, não acredita que Fernandes não soubesse do destino do dinheiro sacado por ele e pelo motorista Éder Jouber Ribeiro Cabo Verde, também da Skymaster. Na opinião do deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG), os funcionários da empresa aérea fazem parte de uma quadrilha. Já a senadora Heloísa Helena (Psol-AL) acredita que os depoentes foram usados. "As quadrilhas usam pessoas como o senhor", afirmou. Ela disse que se esforça para acreditar na versão de Fernandes, mas avisou que ficará "enfurecida" se descobrir que ele mente.
O sub-relator de Contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), por sua vez, afirmou que não há dúvidas de que o dinheiro sacado pelos dois empregados da Skymaster foi utilizado para o pagamento de propina. Cardozo suspeita que os saques beneficiaram "membros da burocracia dos Correios e pessoas que têm poder político sobre a estatal".
O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que a confirmação dos saques realizados em contas da Skymaster por dois funcionários da empresa reforçam a hipótese de que haja caixa 2 para financiar esquemas de corrupção, como o pagamento de propinas para vencer licitações. De acordo com o relator, a CPMI também suspeita que a Skymaster seja a verdadeira proprietária de aeronaves formalmente arrendadas. A operação, segundo Serraglio, pode ocultar um esquema de remessas ilegais de dinheiro para o exterior e de desvio de recursos da empresa para seus sócios.