Único acusado de participar do crime conhecido como Chacina da Gruta a ser reconhecido por uma sobrevivente, Jadielson Barbosa da Silva foi o terceiro dos cinco réus a ser interrogado no julgamento dos homicídios, que ocorre desde ontem (segunda-feira), no Tribunal Federal em Alagoas, em Maceió.
No crime, ocorrido em 16 de dezembro de 1998, foram assassinados a deputada alagoana Ceci Cunha, o marido, Juvenal Cunha, a sogra, Ítala Neyde Maranhão Pureza e o cunhado, Iran Carlos Maranhão.
Silva foi apontado como um dos atiradores por Claudinete Santos Maranhão, irmã de Ceci, que estava no local da chacina e conseguiu escapar dos atiradores. Ela foi a primeira testemunha de acusação a prestar depoimento, ontem.
No depoimento, o acusado chorou, chamou Claudinete de “muito irresponsável” e, como outros dois acusados ouvidos na noite de ontem, negou ter participado do crime. Ele disse que, na hora da chacina, levava um filho do ex-deputado Talvane Albuquerque Neto – acusado de ser o mandante do crime – para Arapiraca, a 128 quilômetros de Maceió, e que ficou sabendo dos assassinatos pelo rádio.
Como trabalhava para Albuquerque, que foi apontado como suspeito de participação na chacina pela polícia, Silva contou ter fugido para Brasília por medo de ser preso. “A polícia chegou na minha casa, atrás de mim, e agrediu minha mãe, uma idosa já doente, e minha mulher”, contou. “Fui transformado em monstro.”
O depoimento de Silva chamou a atenção da acusação pela repetição de expressões como “não sei” e “não me lembro” nas respostas, especialmente depois de perguntas feitas pela promotoria.
A atitude irritou familiares das vítimas. Cléia Oliveira, também irmã de Ceci, chegou a deixar o Auditório Pedro Acioli, onde ocorre o julgamento, durante o depoimento. “Eles estão tentando se defender dizendo apenas “não me lembro”, mas em poucos dias a justiça será feita”, disse.
Após o término do interrogatório de Silva, teve início o depoimento do quarto dos cinco acusados, Alécio César Alves Vasco. O depoimento mais aguardado é o do ex-deputado Talvane Albuquerque, apontado pelo Ministério Público Federal como mandante da chacina, que deve ser tomado na noite de hoje.
O julgamento é acompanhado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que enviou o juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça, Nicolau Lupianhes Neto, para Maceió. O caso foi incluído no Programa Justiça Plena, do CNJ, pela demora na tramitação e pela grande repercussão.