Acusação e defesa trocam uma série de ataques em MG

Acusação e defesa trocaram uma série de ataques nos debates travados na reta final do julgamento do goleiro Bruno Fernandes, no Fórum de Contagem (MG), acusado de sequestrar, mandar matar e ocultar o cadáver da ex-amante Eliza Samudio, de 24 anos, e da ex-mulher do jogador, Dayanne Rodrigues do Carmo, acusada do sequestro e cárcere privado do bebê que a vítima teve com o atleta.

O promotor Henry Wagner Vasconcelos foi favorável à absolvição de Dayanne, mas pediu a condenação de Bruno em todos os crimes e afirmou até que o goleiro tem ligações com o tráfico de drogas. Já a defesa centrou boa parte de sua sustentação oral em ataques à Polícia Civil, ao Ministério Público e à mídia. A decisão deve ser anunciada na madrugada de sexta-feira (8), coincidentemente Dia Internacional da Mulher.

Segundo o advogado Lúcio Adolfo da Silva, a imprensa já sentenciou os réus e “espera a condenação” também por parte do conselho de sentença. “Se vocês (jurados) absolverem, ficarão mal na imprensa. Se querem ficar bem na imprensa, na foto, condenem”, disse ao júri popular encarregado de decidir o destino do casal. “É fácil condenar. Coragem é dizer que não é espada de vingança”, provocou Adolfo, que também distribuiu vendas às cinco mulheres e dois homens selecionados como jurados lembrando que a Justiça “é cega” e pedindo imparcialidade ao grupo.

“Lave sua boca hipócrita”, respondeu o promotor. E acusou o advogado de ter levado à imprensa um primo de Bruno, Jorge Luiz Lisboa Rosa, já condenado pelo crime ocorrido quando o rapaz ainda era adolescente, para dar uma entrevista favorável a Bruno. Jorge foi uma das principais testemunhas no processo, mas tentou mudar seu depoimento várias vezes e fez o mesmo com a entrevista concedida ao “Fantástico”. O jovem, hoje com 19 anos, foi arrolado como testemunha pela acusação e defesa, mas não compareceu ao julgamento. “Ele (Lúcio Adolfo) tentou usar a mídia, mas o tiro saiu no pé”, observou Vasconcelos.

Depoimentos

O dia começou com um pedido de ‘reinterrogatório’ feito pela defesa dos dois réus. Dayanne apenas confirmou que recebeu telefonemas do então policial civil José Lauriano de Assis Filho orientando para quem deveria entregar o filho de Eliza e Bruno quando tiveram início as investigações. Segundo Dayanne, Zezé, como é conhecido, agia por ordem de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, braço direito de Bruno e já condenado pelo assassinato e sequestro da vítima. Ela contou também que tinha e tem medo do hoje ex-policial. “Pelo que Bruno falou, minhas filhas correm risco. Tinha medo e estou com medo agora, tanto dele (Zezé) quanto do Macarrão e da situação”, declarou.

Bruno, por sua vez, afirmou apenas que “sabia e imaginava” que Eliza seria morta quando deixou seu sítio em Esmeraldas, em Minas Gerais, em companhia de Macarrão e de Jorge Rosa. Em depoimento na quarta-feira (7), o goleiro já havia assumido que a ex-amante foi assassinada e que “aceitou” e “se beneficiou” do crime, mas que soube do homicídio, que atribuiu a Macarrão e ao ex-policial Civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apenas após ele ter ocorrido. Nesta quinta-feira, na nova declaração, ele alegou que sabia que Eliza ia morrer “pelas constantes agressões” de Macarrão contra a moça e “pelo fato de ter entregado dinheiro para ela”, que cobrava ajuda para cuidar do bebê.

Debate

A sustentação oral da acusação teve início apenas no fim da manhã, quando Henry Vasconcelos classificou como “hipócrita” a alegação inicial da defesa de que não havia crime porque o corpo de Eliza nunca foi encontrado e salientou que cada um dos sete jurados “representa cerca de 30 milhões de brasileiros, porque é um caso que interessa a toda a nacionalidade”. “(Bruno) é um rapaz que alcançou todos os bens desejados. (Mas) usou sua posição, com o dinheiro a tomar-lhe a cabeça, e descartou, como se pisasse num inseto, a mãe de um filho seu. Gente não se trata como barata”, disparou o promotor, que considerou o goleiro e os demais envolvidos no caso de “perversos”.

Vasconcelos lembrou que a própria Eliza já havia procurado a polícia denunciando agressões por parte do goleiro, então contratado pelo Flamengo, e que o atleta propôs um acordo à ex-amante desde que ela retirasse a queixa, porque ele tinha uma proposta para atuar pelo Milan, mas não podia deixar o País por causa da pendência legal. E acusou o jogador de “mandar, comandar e articular seus funcionários, mulheres, primos e amigos” para matar Eliza. E afirmou que Bruno era ligado ao tráfico de drogas e já teria sido visto algumas vezes em companhia de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro.

No meio da tarde, a defesa começou a defender sua tese, baseada principalmente nos pedidos de absolvição, de participação de menor importância no crime ou, na pior das hipóteses para o acusado, de retirada das qualificadoras do assassinato, tese que, se acatada, transforma o crime em homicídio simples, que tem pena máxima de 20 anos e permite progressão de regime após cumprimento de um sexto da pena. O advogado Lúcio Adolfo fez vários ataques às investigações e ao promotor.

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