O acordo para livrar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da investigação sobre a origem do dinheiro que supostamente utilizaria para custear o aluguel e pensão alimentícia da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos, deve chegar amanhã ao final. Está previsto para às 10 horas, a votação – e provável aprovação – do parecer em que o relator do Conselho de Ética, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), considera que a denúncia é fruto de "denuncismo, em que suspeitas e suposições são capazes de levar autoridades á execração pública".
Para o relator, tudo não passou de "ilações" dos autores de matéria da revista "Veja", na qual Mônica afirma que recebia o dinheiro das mãos do lobista da Mendes Júnior Cláudio Gontijo, na sede da empreiteira. Cafeteira fez o parecer em 48 horas, baseado na defesa apresentada pelo advogado de Renan. Ele se recusou a ouvir o lobista, a jornalista ou mesmo seu advogado.
Tampouco pediu para periciar os documentos sobre os rendimentos rurais apresentados pelo senador como prova de que dispunha de recursos para custear as despesas da jornalista. São inúmeros e poucos convincentes recibos. O modelo é praticamente o mesmo, redigido no computador, em que empresas, seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), e outras pessoas físicas afirmam que compraram gado de Renan. Um desses compradores, José Acácio da Rocha, aparece quatro vezes, sendo que em uma delas seu CPF está truncado e em outra nem aparece no recibo. Não há nenhum carimbo ou nota fiscal sobre as transações que, segundo Renan, teriam lhe assegurado renda de R$ 720 mil, no ano passado.
Além de senadores da base aliada, Renan também tem o apoio de senadores da oposição que só agora, depois de fechado o esquema para inocentá-lo, é que resolveram se pronunciar a favor da investigação. Ou seja, vão jogar para a platéia, mesmo tendo passado as últimas três semanas alegando que não havia motivo para investigar o presidente da Casa. Dois partidos, o DEM, PSDB e o senador Jefferson Péres (PDT-AM) vão apresentar votos separados, pedindo ao presidente do conselho, Siba Machado (PT-AC), que suspenda a votação do relatório de Cafeteira, enquanto investigam a denúncia.
O gesto, porém, não deve ter efeito prático, já que os líderes do PMDB, Waldir Raupp (RO), e do PT, Ideli Salvatti (SC) asseguram que seus sete representantes vão votar pelo arquivamento do relatório. Renan Calheiros disse ontem que sustentou o processo com "absoluta tranqüilidade". Ele cumprimentou Cafeteira demoradamente, em um canto do plenário. Renan insiste que foi vítima, não só de Mônica, mas também da imprensa. Ele distribuiu ontem um catálogo com a colagem de matérias contra ele que, afirma, terminaram sendo desmentidas.