No melhor estilo do velho PSD, que primeiro fazia o acerto interno e depois marcava a reunião, o PFL reúne amanhã sua executiva nacional para anunciar que fará uma oposição “fiscalizadora e construtiva” ao governo de Luiz Inácio da Silva. E se o PT esperava contar com o apoio do senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que deu seu voto aberto a Lula para presidente, pode ter uma surpresa.
Hoje, em Brasília, ACM antecipou que fará oposição ao governo petista e cobrará as promessas de campanha, incluindo um salário mínimo de pelo menos R$ 250. “O PFL deve aparecer unido na oposição, votando o que for importante para o país e cobrando”, disse ACM. O senador eleito acredita que seu partido não deixará de apoiar medidas que já defendia antes, algumas com o apoio do PT, como o aumento do mínimo. “Eu até reconheço que o salário de US$ 100, que era meu desejo e também do deputado Paulo Paim (PT-RS), agora eleito senador, hoje não é possível, com o dólar alto como está. Mas o de R$ 211 previstos no orçamento do ano que vem é vergonhoso e isto não vamos aceitar”, disse. “Se eu já briguei com o PFL por isto, não vou mudar agora”, afirmou o pefelista baiano.
Segundo o líder pefelista na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), o texto da nota que executiva nacional aprova nesta quinta-feira já está pronto desde hoje à tarde. “Vai sair uma nota bonita parabenizando o Lula pela vitória e dizendo que o importante na democracia é prestigiar o eleito, mas deixará claro que nós estamos na oposição”, antecipou Inocêncio.
De acordo com a nota, a oposição “fiscalizadora, construtiva e responsável”, nos mesmos moldes definidos na véspera pela direção nacional do PSDB, implicará em uma atuação em duas frentes: votando o que for importante para o País e cobrando os compromissos assumidos em praça pública, para que não haja frustração.
As cobranças também serão balizadas no comportamento e nas propostas apresentadas pelo PT. No caso do fundo da pobreza, cuja criação foi proposta por ACM, o líder baiano já recomendou a seu suplente no Senado, Antonio Carlos Júnior (PFL), que apresentasse hoje mesmo uma emenda dobrando o valor da bolsa escola para R$ 30, porque, na sua avaliação, R$ 15 eram realmente muito pouco, como já diziam os petistas. “Não creio que seja difícil para o PT cumprir o que prometeu, porque só se deve prometer o que se pode realizar. Se não tudo, pelo menos a maior parte”, observou ACM.
Diante dos argumentos governistas de orçamento apertado, ACM citou Osvaldo Aranha, que dizia não haver problema insolúvel para a inteligência humana, e apelou para as qualidades de hábil negociador de Lula. “Ninguém pode negar que o novo presidente é um negociador por excelência e saberá negociar com o Congresso de forma sempre muito honrosa e digna.”
Ele aposta que Lula encontrará um caminho para a situação de desigualdade que ele mesmo colocou em primeiro lugar. “Ele saberá onde contar e como fazer uma coisa decente em relação ao salário mínimo”, insistiu, ao salientar que fala com a autoridade de quem deu ao petista milhares de votos na Bahia. ACM lembrou que o município brasileiro em que Lula bateu recorde de votos no Brasil é baiano e governado por um aliado seu, do PFL. São Francisco do Conde deu a Lula nada menos que 94% dos votos da cidade.