Brasília (ABr) – A frota brasileira de veículos é sete vezes mais letal que a americana. Todos os anos morrem no Brasil cerca de 35 mil pessoas por acidente no trânsito, meio milhão de pessoas ficam feridas, e cerca de 100 mil pessoas sofrem lesões irreversíveis. Por dia, 100 pessoas são mortas. O Código de Trânsito Brasileiro, desde sua implantação há oito anos, sofreu poucas mudanças. Nos dois primeiros anos de aplicação, houve queda de cerca de 15% na mortalidade e no número de acidentes.
As informações foram dadas pelo professor, médico e doutor em Segurança de Trânsito da Universidade de Brasília (UnB), David Duarte. Segundo ele, depois do primeiro momento da implantação do novo código, tudo voltou a ser como era antes. ?O Estado não cumpre as suas obrigações, os nossos motoristas continuam mal treinados, alguns muito irresponsáveis, então a nossa situação é de tragédia.? De acordo com o professor, o custo dessa situação para o Brasil é de cerca de R$ 30 bilhões em prejuízos materiais todos os anos, valor que reflete no tratamento e na reabilitação do acidentado.
Duarte citou três causas para o alto índice de acidentes: a irresponsabilidade de motoristas que dirigem de forma agressiva e arriscada; as más condições das vias urbanas e a má conservação dos veículos, alguns até sem freio e sem manutenção. ?Além disso, pensando no Brasil como um todo, nós temos uma fiscalização precária por parte do poder público.?
Para o professor é necessário fiscalizar a velocidade dos veículos, mas considerou ?um exagero? na cobrança da multa. Segundo ele, a multa ?virou uma fonte de arrecadação no orçamento?. O professor afirmou que vários órgãos no Distrito Federal e em outros lugares incluem a multa no orçamento. ?Mas isso está errado. É preciso ter a multa, sim, mas está havendo um certo exagero na fiscalização. Nenhum país do mundo pode negligenciar a fiscalização com relação à velocidade.?
Uma das soluções propostas por David Duarte é um grande esforço nacional para construir um banco de dados sobre segurança de trânsito e sobre os acidentes, porque, segundo ele, os dados nacionais são muito ruins. ?Estatística de certa forma é um diagnóstico da situação. A gente só consegue tratar bem um problema com um diagnóstico preciso, e que nos permita tomar decisões.? Ele ainda reforça que é preciso investir na educação para o trânsito, porque não adianta só a punição. ?Aqui, muitas vezes a punição vem antes da educação, e esse é um erro.?
Cansaço mata mais em ônibus
Sorocaba (AE) – Um estudo realizado pela organização não governamental SOS Estradas apurou que, em 216 acidentes de ônibus registrados entre janeiro de 2002 e março de 2004, pelo menos 99 ocorreram sem o envolvimento de outro veículo. Esses acidentes provocaram a morte de 337 pessoas, ferimentos em 1.964 e podem ter sido causados pelo cansaço ou sono dos motoristas, segundo o coordenador da ong, Rodolfo Alberto Rizzotto. Os outros 117 acidentes, em que houve o envolvimento de pelo menos mais um veículo, foram menos letais, causando a morte de 305 pessoas. Para ele, o acidente com os ônibus da empresa Andorinha que deixou 32 mortos, domingo, em Regente Feijó, oeste do Estado de São Paulo, pode ser incluído nessa estatística.
