Parentes de vítimas do acidente da Air France de 2009, quando um avião partiu do Rio com destino a Paris e caiu no meio do Atlântico, questionam a decisão da Procuradoria de Paris de requisitar um julgamento criminal à empresa Air France, mas não à fabricante da aeronave, a Airbus. Para Nelson Faria Marinho, presidente da associação que reúne os parentes das vítimas, “a Airbus também tem culpa no cartório”, e também deveria ser levada a julgamento.
A Justiça francesa ainda não decidiu se acata o pedido do Ministério Público do país. A Procuradoria considera que a companhia aérea “foi negligente e imprudente” por não ter fornecido aos seus pilotos informações suficientes sobre o procedimento a ser adotado em caso de anomalias relacionadas às sondas que permitem controlar a velocidade da aeronave, após vários incidentes do mesmo tipo nos meses que antecederam o desastre, de acordo com a decisão de 12 de julho.
Por outro lado, a estimativa do órgão de acusação foi que não haja acusações fortes suficientes contra a fabricante da aeronave para um julgamento. Cabe agora aos juízes de instrução decidir se vão seguir essas requisições e ordenar um julgamento apenas para a companhia aérea.
O acidente ocorreu em 1º de junho de 2009. O avião transportava 228 pessoas. As investigações apontaram que, depois de uma falha nos aparelhos que indicavam altura e velocidade do avião, causada pelo congelamento de um instrumento que fazia essas medições, os pilotos aplicaram uma série de comandos equivocados na aeronave, o que resultou em sua queda.
Nelson Faria Marinho, que há dez anos pede que haja indiciamento criminal de pessoas responsáveis pela tragédia, afirma concordar com o indiciamento da companhia aérea. “A Air France tem sua responsabilidade, mas a Airbus também”, afirma. Para ele, a companhia aérea falhou ao executar a manutenção da aeronave e treinar pilotos.
Entretanto, Marinho diz que, ao longo desse período, a associação ouviu pilotos, engenheiros e mecânicos que apontaram falhas no avião. “Não sou especialista”, diz ele, “mas nosso representante técnico na França é piloto”, diz.
Marinho afirmou esperar que o Ministério Público Federal também apresente uma denúncia criminal sobre o acidente. “Não é sobre dinheiro. A maioria das famílias já foi indenizada. É por Justiça. Quero que a verdade venha à tona.”
O Estado procurou a Airbus para comentar o posicionamento da associação de vítimas, mas ela não se manifestou sobre o tema. Por meio de sua assessoria de imprensa do Brasil, a empresa informou apenas que “a Airbus não comenta as recomendações da procuradoria de Paris”.
Já a Air France informou que foi informada da decisão dos procuradores e que pedirá o arquivamento do caso.
“A Air France confirmará seu pedido para que o caso seja arquivado quando apresentar seus comentários em resposta aos magistrados. É então de decisão exclusiva dos magistrados examinadores em saber se o processo de acusação deve ser levado perante o tribunal criminal”, diz nota enviada pela assessoria da imprensa da empresa em São Paulo. (Com agências internacionais)