Rio
– Em um dos maiores confrontos da “elite” do tráfico carioca, no presídio Bangu I, quatro traficantes foram assassinados ontem em uma rebelião iniciada às 8h30. Morreram Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, Wanderley Soares, o Orelha (cunhado do Uê), Carlos Roberto da Silva, o Robertinho do Adeus, e Marcelo Lucas da Silva, o Café. Elpídio Robô foi esfaqueado e está em estado grave. Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, foi espancado, mas decidiu apoiar Beira-Mar e foi poupado.Todos estes traficantes eram inimigos mortais de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e seu comparsa, Chapolim, sobre quem caiu a responsabilidade de uma rebelião que, aparentemente, teve o objetivo de um grande acerto de contas entre facções rivais. Segundo policiais, Beira-Mar estaria com armas e granadas. Mais tarde circularam versões de que o próprio Beira Mar negou envolvimento no grande acerto de contas, que teria sido obra dos traficantes My Thor e Gigante. Mas, na realidade, vários traficantes se revezavam na liderança da rebelião.
Um dos indícios de que Beira-Mar liderou a rebelião foi a resposta à polícia, que tentou entrar no presídio. Ele respondeu que “só deixará policiais entrarem no presídio quando terminar o serviço”. Uê era considerado um dos traficantes mais perigosos do País. Segundo a polícia, ele teria comandado, de dentro da prisão, ataques contra postos policiais do Rio. Ele é um dos líderes da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos) e estava detido em Bangu I há seis anos. Integrantes da ADA estariam se unindo a uma outra facção, o TC (Terceiro Comando).
Beira-Mar, segundo a polícia, é o principal fornecedor de drogas para favelas dominadas pelo CV (Comando Vermelho), do qual também faria parte Chapolim, outro preso de Bangu I. A prisão dos traficantes não reduziu o poder da facção. Em gravações feitas pelo Ministério Público em celulares dos traficantes presos no presídio, Chapolim encomenda um míssil Stinger, o mesmo usado pela organização terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden.
Reféns
Oito pessoas foram feitas reféns, entre agentes e operários de uma obra realizada na unidade. Policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e funcionários do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) negociaram durante todo o dia com os amotinados. Duas pessoas que estavam em poder dos amotinados foram libertados no início da noite. O presídio, considerado de segurança máxima, abriga 46 presos em celas individuais. No local estão criminosos de alta periculosidade. No começo da noite, a governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), ligou para o presidente Fernando Henrique Cardoso para falar da gravidade da rebelião e ele avalizou a invasão do presídio. Benedita também decidiu afastar o diretor de Bangu I, Ricardo Couto, e mais 12 agentes penitenciários.
As negociações fracassaram porque a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro considerou absurdas as exigências feitas pelos presos responsáveis pela rebelião. Os amotinados pediram o fim do “esculacho” (repreensão com humilhações e agressões) na hora da revista e que os presos não sejam transferidos para presídios fora do estado. Até o fechamento desta edição de O Estado, o impasse ainda não havia sido resolvido e a polícia estudava o momento certo de invadir a penitenciária e controlar a rebelião.
Um dia de pânico nas ruas do Rio
Rio
– A rebelião no presídio de segurança máxima Bangu 1, na zona oeste no Rio, espalhou pânico pelas ruas da cidade e mais uma vez mostrou o poderio do crime organizado nos morros e na periferia. Em luto aos traficantes mortos, foi imposto toque de recolher em várias partes da cidade. Além disso, a cúpula da área segurança pública do Rio mobilizou 2 mil policiais militares e quatro helicópteros na tentativa de evitar depredações e tiroteios entre traficantes. O dirigível também foi usado na operação.Por precaução, em nove bairros, parte do comércio fechou as portas, mesmo sem determinação dos traficantes. A tensão foi maior nas imediações do complexo do Alemão, zona norte, dominado pelo Comando Vermelho. Com medo de que as favelas da região, em retaliação, fossem invadidas pelo grupo de Uê, até igrejas fecharam as portas no início da tarde. O motim teve início às 8h30, liderado pelo Comando Vermelho. O líder do grupo é Fernandinho Beira-Mar, condenado por tráfico, formação de quadrilha e homicídio. Apesar de durante todo o dia se falar em seis mortos, no final da noite os números da violência dentro do presídio Bangu 1 ainda eram confusos. A estimativa mais modesta era de três mortos e se falava em até oito mortos. Os seis reféns, dois dos quais foram liberados à noite, foram todos amarrados a botijões de gás. Os presos ameaçavam matar todos, caso a polícia invadisse o local.
