A acareação feita ontem na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos revelou contradições entre as declarações prestadas pelo empresário Marcos Valério de Souza, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, e a funcionária da empresa de publicidade de Valério Simone Vasconcelos. Valdemar Costa Neto manteve a declaração de que recebeu R$ 6,5 milhões do empresário Marcos Valério de Souza para custear campanhas de 2002.
Segundo Costa Neto, parte dos recursos teria sido usada no segundo turno da campanha presidencial na capital paulista e região metropolitana. Marcos Valério, no entanto, disse que pagou em dinheiro R$ 1,5 milhão e depositou na conta da empresa Guaranhuns Participações e Empreendimentos mais R$ 10,8 milhões para Valdemar Costa Neto.
O presidente do PL afirmou que não recebeu o valor apontado pelo empresário e que desconhece a Guaranhuns. Marcos Valério ressaltou que a quebra dos sigilos bancário e telefônico da Guaranhuns, de Costa Neto e do ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas mostrará que o dinheiro foi depositado. "Eu não vou ensinar à CPMI como proceder uma investigação", disse Valério.
Ele acrescentou que os cerca de R$ 12 milhões que teriam sido pagos a Costa Neto faziam parte do acordo fechado entre o PT e o PL para financiamento de campanhas em 2002. De acordo com o empresário, todos os pagamentos que realizou foram orientados pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que confirmou a informação.
"Era uma relação de confiança. Determinei o pagamento do montante e não houve reclamação da outra parte", afirmou Delúbio. Já Costa Neto disse que não reclamou os recursos não pagos, uma vez que, "no caixa comum da campanha presidencial", ficou acertado um repasse de R$ 10 milhões.
Segundo Valério, a indicação do depósito na Guaranhuns Participações e Empreendimentos foi feita pelo ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas. Na acareação com Valério, Delúbio e Simone Vasconcelos, Lamas negou que tenha feito este pedido ao empresário mineiro. Ele disse que desconhecia a existência de uma diferença entre o valor acordado com o PT e o efetivamente pago.
Marcos Valério reafirmou que só a quebra dos sigilos bancário e telefônico de Lamas e da Guaranhuns poderiam "mostrar a verdade". Ele apresentou uma documentação, que já havia sido entregue à CPMI quando do seu último depoimento, em que mostra 19 pagamentos feitos a Lamas, entre 4 e 14 de agosto de 2003, que somam R$ 2,537 milhões.
Lamas também disse que não conhecia a empresa Guaranhuns. Segundo o ex-tesoureiro do PL, os R$ 10,8 milhões que Valério afirma ter depositado na empresa eram recursos do ex-deputado Valdemar Costa Neto, e não do PL.