O governo brasileiro está preocupado com o risco de punição externa pela absolvição de nove sargentos que participaram do confronto de Eldorado do Carajás, no qual 19 sem-terra foram mortos, em 17 de abril de 1996. O temor é de que a decisão da Justiça do Pará possa influenciar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), e o Brasil condenado a pagar indenizações, além de ser responsabilizado pelo conflito.
Segundo a subprocuradora-geral da República e dos Direitos do Cidadão, Maria Eliane Menezes de Farias, que acompanha o julgamento em Belém desde 14 de maio, a sentença em favor dos sargentos poderá ser estendida aos seis tenentes e sargentos que serão levados à júri amanhã (04), e aos 128 soldados que irão sentar no banco dos réus no dia 10.
A preocupação do governo é tamanha que o julgamento desta terça-feira será acompanhado pela subprocuradora e pelo assessor especial do Ministério da Justiça, Marcos Pinta Gama. O temor é de que o próprio Ministério Público do Pará se sinta satisfeito em ter provocado a condenação do coronel Mário Colares Pantoja a 228 anos de prisão e do major José Maria Oliveira, a 158 anos. ?Não se pode julgar apenas quem ordenou o confronto, mas também os responsáveis pelas mortes dos sem-terra?, afirma Maria Eliane.