Há um ano, quando havia acabado de trocar o Brasil pela Itália, o cientista da computação Claudenir Morais Fonseca, de 26 anos, passou um Natal de apertar o coração. Era a primeira vez que celebrava o fim de ano no exterior – de quebra, estava longe da família na gelada Bolzano, norte da Itália, onde cursa o doutorado.

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“Mudei em busca de uma oportunidade de doutorado, de um grupo de excelência em minha área”, conta ele. “Era tudo novo, então eu acabei bem perdido. Naquele momento, estava de fato sozinho e tentei me integrar com colegas. Mas a maior parte deles também foi passar as festividades com suas famílias, em outras regiões.”

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Este ano, as perspectivas são melhores. Isso porque, desde março, Fonseca não está mais sozinho. Sua mulher, Danielly, finalmente se mudou para a Itália e, este ano, os planos para o Natal estão por conta das expectativas dela. “Ela está muito ansiosa, principalmente para viver um Natal com neve, coisa de filme”, comenta.

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Em uma época do ano em que todos costumam se voltar mais para as famílias, é natural que as saudades apertem mais dentro daqueles que escolheram – ou precisaram escolher – viver longe do Brasil.

Decisão esta cada vez mais comum, aliás. De acordo com os dados mais recentes da Receita, em 2017 mais de 21 mil brasileiros fizeram a declaração de saída definitiva do Brasil – em 2013, para efeitos de comparação, foram menos de 10 mil.

A advogada Angela Lindemberg, de 24 anos, tomou esta decisão recentemente. Há quatro meses, ela saiu de Fortaleza, no Ceará, para viver em Toronto, no Canadá. Mora sozinha e, por enquanto, está focando os esforços em um curso de inglês voltado para negócios. “Vai ser a primeira e gelada vez que passo o fim de ano longe da família”, afirma. “A expectativa? É chorar um bocado, tentar ficar no celular falando com minha mãe… Espero deixar um ‘Eu te amo, mãe’, bem brega, em nível nacional.”

“Natal dá uma dor, uma saudadezinha maior, né”, afirma a jornalista Karla Andrade Savoi, de 32 anos, que há seis meses se mudou de Belo Horizonte, Minas, para a Itália – e vive em Milão.

Mesmo com o aperto no coração, ela não se arrepende da decisão. “Vim porque o Brasil está muito violento. Isso me levou a buscar uma vida melhor”, diz

Já o sociólogo Bruno Hermes de Oliveira Santos, de 29 anos, se mudou para a Itália em setembro para fazer pós-graduação na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, e vai passar o Natal longe de casa pela primeira vez. “Se as saudades serão maiores no fim de ano? É possível, mas só vou ter certeza no dia do Natal”, afirma.

Raízes criadas

Se um Natal longe da Pátria é novidade para muitos, há também os brasileiros que já estão habituados. Há cinco anos em Liubliana, capital da Eslovênia, a psicóloga carioca Marta Helena dos Santos Berglez, de 48 anos, gosta de aproveitar a tranquilidade do centro de sua cidade para caminhar à noite e admirar as luzes natalinas. “Tudo muito seguro e agradável”, frisa.

Marta se lembra muito bem do primeiro fim de ano que passou lá. “A temperatura chegou a 10 graus negativos e mesmo com toda a roupa que tinha me senti congelando aos poucos”, conta ela, que foi com amigos ver a queima de fogos no castelo. Na Eslovênia, ela fundou o Projeto Sementeira, que mantém e promove a língua portuguesa e a cultura brasileira.

O administrador de empresas paulistano Renato Guido Monteiro, de 30 anos, também já está habituado a passar o fim de ano longe. Há três anos, ele mora em Pequim. “Costumo comemorar com amigos brasileiros e outros estrangeiros. Mas eu diria que as saudades são, sim, maiores nesta época.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.