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A precária casa dos futuros advogados

O letreiro já gasto, em cima da porta principal com vidros quebrados, dá a única pista da identidade de um prédio bastante desgastado na Avenida São João, em Santa Cecília: Casa do Estudante. Em dez andares, o edifício abriga alunos do mais notável curso de Direito do País, a Faculdade do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP).

Inaugurado em 1949, o prédio nunca passou por amplas reformas e acumula problemas elétricos e hidráulicos, além de não corresponder às necessidades de uso dos alunos. Por isso, os moradores se mobilizaram para arrecadar por financiamento coletivo, até o fim do ano, R$ 500 mil para uma grande revitalização da casa, que é de propriedade do Centro Acadêmico XI de Agosto e nunca recebeu recursos da universidade.

Com três apartamentos de dois quartos por andar, o prédio foi construído para receber jovens de famílias ricas do interior que iam estudar na prestigiada faculdade paulistana. O prédio teve, entre os moradores, o presidente Michel Temer (PMDB), por exemplo. Nos últimos anos, porém, ganhou um caráter social, abrigando estudantes de baixa renda, sem condição de pagar aluguel no centro da capital paulista.

Desde 2015, a faculdade reserva parte de suas 460 vagas de ingresso para alunos de escola pública – o porcentual vem aumentando gradativamente e chegará a 50% em 2021. Como consequência, a demanda por um quarto na casa também está crescendo, pois ela é praticamente a única opção. Atualmente, só três estudantes de Direito moram no Conjunto Residencial da USP (Crusp), na Cidade Universitária, na zona oeste da capital.

Mais vagas

O projeto de reforma prevê reformular os quartos, que são individuais e espaçosos, para que possam comportar duas pessoas. Hoje, moram no prédio 63 estudantes da graduação e pós-graduação, selecionados pelos critérios de renda e vulnerabilidade social da USP.

“Sempre estudei em escolas públicas de Brasília. Sem a Casa do Estudante, não teria como ficar em São Paulo. O curso ainda é muito elitista e o gasto com livros e cursos de idioma, muito alto”, diz Gabriel Prado, de 21 anos, diretor e morador da casa.

A residência é financiada pelo centro acadêmico, que repassa R$ 24 mil por mês, e pelo aluguel da parte térrea, onde funcionam duas lojas. Também há uma taxa opcional de R$ 50 por morador, mas atualmente paga por apenas seis pessoas. O valor é suficiente para as contas de água, luz e internet e manutenções emergenciais.

“Não há risco iminente no prédio, mas as fiações estão expostas; os degraus, desgastados; e há vazamentos. O edifício não tem acessibilidade nem local de estudos. É só um dormitório. Os moradores quase não ficam aqui porque as condições são insalubres”, diz o arquiteto Gabriel Pietroroia, responsável pelo projeto.

O professor Floriano Marques, diretor da Faculdade de Direito, diz que a Reitoria já se dispôs a reformar a casa desde que passasse a administrá-la. A medida não foi aceita pelos alunos, pois as vagas teriam de ser abertas para os alunos de toda a USP.

Marques, porém, se diz sensibilizado. “Não faz sentido termos uma política consistente de inclusão, mas não darmos condições para que eles se dediquem aos estudos. Temos de garantir os meios para que eles se formem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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