O carnaval acabou outro dia. A Páscoa nem chegou. Mas em um imenso galpão de 2 mil metros quadrados em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, ninguém se engana: já é Natal. “Pensamos nisso o ano todo”, diz Nelson Paulino Júnior, diretor de operações da 2a1 Cenografia.

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E é ao som de Noite Feliz, Jingle Bells e outros hits natalinos que o jornal O Estado de S. Paulo percorre o showroom montado pela empresa de 13 de março a 15 de abril para que shoppings de todo o País definam já qual vai ser a marca da decoração da temporada mais quente para as compras. Em média, uma decoração completa sai por R$ 400 mil. “Mas o céu é o limite”, frisa Danielle Paulino, a diretora comercial. A reportagem apurou, com base nos preços praticados por três empresas, que o preço mínimo é de R$ 250 mil e há decorações que podem bater na casa dos R$ 2 milhões.

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Sinal dos tempos, a figura rechonchuda do bom velhinho – como todos já notam nas últimas temporadas – cada vez mais cede espaço para personagens licenciados. Assim, os 13 cenários montados pela 2a1 Cenografia – cinco deles, inéditos – têm Barbie, Turma da Mônica, Dora Aventureira, Patrulha Canina e outros sucessos do imaginário infantil.

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Em parte por causa disso, a operação mesmo começa dois anos antes. Em feiras de licenciamento, representantes das empresas de decoração precisam adquirir os direitos de uso de tais personagens. As mais badaladas ocorrem nos Estados Unidos, nas mecas do entretenimento Orlando e Las Vegas, respectivamente em maio e agosto. Ou seja: o que está no showroom deste ano já foi licenciado no ano passado.

A despeito de crise econômica e discursos pessimistas, é um negócio que não para de crescer. Há nove anos, a 2a1 estreou nesse mercado fazendo três shoppings. No ano passado foram 60 e a expectativa da empresa é de um resultado 25% maior em 2017. Parte da explicação, acreditam os proprietários, vem da operação feita com funcionários próprios. “Do motorista ao cenógrafo, passando por toda a mão de obra, não terceirizamos nada”, afirma Nelson.

A aposta mais contemporânea do setor está na interação. “Para isso, nossa aliada é a tecnologia”, afirma Caio Paulino, o diretor de produção. Além dos já consagrados movimentos de objetos cenográficos, hologramas e imersões por meio de realidade virtual devem ser a tônica no Natal de 2017. A reportagem experimentou a atração que integra o pacote de decoração do Aladin: com óculos e luvas especiais, é possível se sentar em um tapete e ter a sensação de voar sobre areias desérticas, tal e qual o personagem.

5 mil Natais. Por aqui, o profissionalismo nas decorações natalinas começou há 36 anos, justamente quando a empresária Conceição Cipolatti sacou que não bastavam laços vermelhos e um boneco de Papai Noel para fazer a festa dos shoppings centers. Criou sua empresa, a Cipolatti – cuja sede fica em Taboão da Serra, também na Grande São Paulo, e passou a oferecer trabalhos mais bem-acabados para os centros comerciais. “Decoração de Natal é algo complexo, que demanda muita criação. Não é só ir na Rua 25 de Março e comprar uns lacinhos”, sentencia, com a experiência de quem já fez 5 mil decorações de Natal ao longo da carreira.

No ano passado, a Cipolatti desenvolveu decorações para 106 shoppings. E dois no exterior: o angolano Belas, de Luanda, e o uruguaio Punta Carretas, de Montevidéu – este último, é seu cliente há 22 temporadas.

Gerente comercial da empresa Cecilia Dale, Silvia Regina Teixeira conta que, ali, o modelo é um pouco diferente: não há showroom e os projetos são desenvolvidos sob medida.

“A Cecilia, proprietária, que empresta o nome ao negócio cria uma história com base no briefing passado por cada shopping. E é assim que o projeto é desenvolvido”, conta.

Ao longo do ano, a decoração é montada em um espaço dentro da sede da empresa e, sob agendamento, representantes do shopping podem conferir, pedir ajustes, adaptações e aprovar. O segredo, entretanto, é qual shopping é dono de qual decoração. Estratégia de marketing, para não quebrar o clima natalino.