Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), José Alberto Orsi enfrentou os primeiros sintomas de depressão em setembro de 1994, aos 26 anos. Ele ainda não sabia, mas logo teria início uma longa história de sofrimento, com crises psicóticas causadas pela esquizofrenia.

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“O primeiro surto de esquizofrenia é muito difícil de ser caracterizado. Mesmo com antecedentes na família, o diagnóstico não era certeiro. Cheguei a ter atendimento psiquiátrico, mas minha primeira crise, de fato, foi mais de depressão do que de esquizofrenia”, disse Orsi à reportagem.

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O engenheiro conta que a mãe sempre teve preocupação com sua saúde mental, por causa do diagnóstico de esquizofrenia do pai. Em 1994, Orsi teve episódios depressivos persistentes, enquanto trabalhava a contragosto como fiscal de obras na ampliação de um shopping center. Ele achava o trabalho frustrante. “Quando tive os sintomas de depressão, atribuí à frustração e não à doença.”

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Com diagnóstico de depressão e medicado, ele continuou a ter crises, até que, em maio de 1995, elas arrefeceram. Orsi suspendeu a medicação, licenciou-se do trabalho e foi para o Mississippi estudar inglês.

A mudança de ares parecia ter sido salutar. O engenheiro iniciou um MBA e por três anos estudou e fez viagens, sem problemas. Até que, em maio de 1998, a aparente estabilidade desmoronou de uma só vez.

Na reta final do MBA, ele teve de fato um surto esquizofrênico, com alucinações. Percebia fenômenos que considerava sobrenaturais.

“Pensava receber mensagens telepáticas da TV e da internet. Achava que meu telefone estava grampeados e que podiam ler minha mente. Eu decifrava importantes códigos secretos e universais de jornais e revistas. A CIA estava por trás da articulação dessa trama.”

A irmã, que morava em Miami, foi buscá-lo e o internou. “Um médico finalmente fez o primeiro diagnóstico de esquizofrenia. Voltei ao Brasil para me tratar.”

Discordâncias

No Brasil, o psiquiatra que o havia atendido em 1995 não concordou com o diagnóstico do médico americano e, no fim de 1998, suspendeu o antipsicótico. Orsi voltou em 1999 para o Mississippi, terminou seu curso, deixou o lítio e, em setembro, conseguiu um emprego na Microsoft. Dois meses depois, teve novo surto. Em 2000, voltou ao Brasil.

Ele ainda seria diagnosticado como bipolar antes de ter mais um surto, em maio de 2001. “Só aí comecei a tomar de forma contínua a medicação que tomo até hoje.” Além do antipsicótico, Orsi usa um estabilizador do humor e outros fármacos clínicos para controlar efeitos colaterais da medicação, como aumento do peso e da pressão. Desde 2001, ele faz consultas semestrais com o clínico geral e visita o psiquiatra a cada dois meses. “Estou estável, não tive mais surtos desde então.”

Para ele, um dos fatores que agravaram seu problema foi se tratar com vários psiquiatras. “Havia troca de prontuários, mas eles pegavam fases diferentes dos surtos. Agora tenho um diagnóstico bem consolidado.”

Em 2003, Orsi começou a frequentar a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre) e hoje é tesoureiro da instituição, que oferece engajamento social e profissional a pacientes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.