Brasília – Longe das capitais, prefeituras oferecem salários de até R$ 16 mil para atrair médicos e assim enfrentar um problema crônico nos pequenos municípios: a falta de profissionais de saúde. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), 74% dos médicos atuam no Sul e no Sudeste, sendo que São Paulo e Rio de Janeiro concentram 49% deles. Essa realidade ficou evidente semana passada, quando a Justiça Federal proibiu médicos cubanos de trabalhar em Tocantins e parte deles deixou o país num avião enviado pelo governo de Cuba.

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Os profissionais cubanos estavam em situação irregular perante o Conselho Regional de Medicina de Tocantins, mas eram a garantia de atendimento em cerca de 40 municípios. Com a liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal, que voltou a permitir que os médicos cubanos trabalhassem no país, 35 foram recontratados, mas outros 61 já haviam voltado para Cuba. O governo estadual corre agora atrás de uma solução emergencial. A falta de médicos no interior contrasta com os números gerais do País. O Conselho Federal de Medicina (CFM) contabiliza 318 mil profissionais em atividade, quantidade suficiente para atender uma população quase duas vezes maior do que a brasileira. É o que diz o presidente da Associação Médica Brasileira, Eleuses Vieira de Paiva. ?Não faltam médicos no Brasil. O que existe é uma concentração no Sul e Sudeste, além da falta de uma política de interiorização?, disse Paiva. Ele critica a inexistência de planos de carreira para profissionais de medicina nos estados. Ele cita o exemplo da magistratura, em que juízes começam a trabalhar no interior e são depois transferidos para a capital. A municipalização da saúde, no entanto, dificulta a adoção da medida. O coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, Genário Alves Barbosa, faz coro com Paiva. Segundo ele, não bastam altos salários para atrair médicos para o interior. Até porque boa parte das propostas de trabalho é precária: contratos temporários rescindidos ao sabor de brigas políticas, trocas de prefeitos e mesmo substituição por mão-de-obra mais barata. ?Para atrair médicos para o interior, é preciso ter uma carreira, ou seja, dar perspectivas ao profissional?, disse Barbosa. A página do CFM na internet reserva espaço para anúncios. Na última quarta-feira, um deles informava que a Prefeitura de Redenção, no Pará, oferecia R$ 16 mil por mês para contratar um cardiologista. Em Ipu, no Ceará, a oferta era de R$ 13.650 para um cirurgião geral.

?Sem um salário mais alto, os médicos não viriam?, disse o secretário municipal de Saúde de Pedro Afonso, em Tocantins. Ano passado, o CFM realizou levantamento com amostra de médicos em todo o País e estimou que 62% deles atuavam nas capitais contra 38% no interior. A proporção indicava uma ligeira interiorização da atividade médica, pois outra pesquisa realizada em 1996 indicou que 65% dos médicos trabalhavam nas capitais.

Saída é oferecer altos salários

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Brasília – A falta de médicos não é um problema apenas de municípios nas regiões Norte e Nordeste. No Rio Grande do Sul, prefeituras do interior também oferecem salários mais altos na hora de montar suas equipes. Em Cambará do Sul, a 180 quilômetros de Porto Alegre, Eduardo Ren da Fontoura, de 31 anos, trocou três empregos na capital para trabalhar no interior. Lá ele faz desde cirurgias de apêndice até atendimento clínico no hospital da cidade. Fontoura disse que a escolha valeu a pena tanto do ponto de vista financeiro quanto de qualidade de vida. ?Para quem não é especialista e ao mesmo tempo é um bom clínico, vale a pena. O custo de vida aqui é menor?, disse.

Segundo Fontoura, pelo fato de não haver vagas nas residências médicas para todos os médicos recém-formados nas grandes cidades, muitos profissionais entram no mercado de trabalho logo após sair da faculdade. Resultado: recebem salários mais baixos e se submetem a rotinas desgastantes, alternando plantões em mais de um hospital, muitas vezes em diferentes cidades da região metropolitana. Os altos salários pagos por algumas prefeituras, no entanto, não são a regra geral, diz o presidente da Associação Médica Brasileira, Eleuses Vieira de Paiva. O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Tocantins, Frederico Melo, concorda.

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?Salários aviltantes e contratos precários de trabalho são o problema. Hoje o governo estadual paga R$ 1.300 mensais líquidos para um médico. Algumas prefeituras então prometem muito e cumprem pouco ou nada. O rodízio de médicos é grande nas pequenas cidades?, disse Frederico Melo.