Brasília (ABr) – A segunda edição da pesquisa Retrato das Desigualdades, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), aponta que na parcela de 10% dos mais pobres da população brasileira (dentro do total de 30,2% de pobres), 71% são negros.
Entre os 10% mais ricos, os negros são 18%, contra 82% brancos. ?Há um embranquecimento da população conforme se sobe na pirâmide social?, avaliou Luana Pinheiro, coordenadora da pesquisa no Ipea.
O estudo foi realizado com base nos dados coletados anualmente, de 1993 a 2004, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a pesquisa, o grupo que mais sofre discriminação – racismo e sexismo – é o de mulheres negras. Elas demoram mais para conseguir trabalho, têm menos escolaridade e menos acesso a cuidados para a saúde, trabalham mais tempo e têm a pior remuneração.
O estudo mostra que em 1993 os brancos estudavam 2,1 anos a mais que os negros, e que em 2004 a diferença caiu para 1,9 ano. Se não forem tomadas medidas específicas, afirmou a pesquisadora do Ipea, essa realidade tende a se perpetuar: ?Grupos diferentes precisam ser tratados de maneiras diferentes. Ações afirmativas temporárias, como as cotas para negros em universidades públicas, podem alterar este quadro?.
O acesso à saúde também é diferenciado, aponta a pesquisa. Enquanto 44,5% das mulheres negras nunca haviam realizado exame clínico de mamas em 2004, o total de brancas sem o exame era de 27%. E 20% da população negra nunca fizeram consultas odontológicas, contra 12% da população branca.
Em relação à exclusão digital, 92,4% da população negra não tinham acesso a um computador em 2004, contra 76,9% da população branca.