21,3% de acidentados por moto usam droga ou álcool

Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo apontam que 1 em cada 5 vítimas de acidente de moto na capital paulista havia consumido algum tipo de droga ou álcool antes do acidente: 7,1% consumiram álcool e 14,2% usaram alguma droga ilícita – a cocaína e a maconha são as mais comuns.

Os dados mostram ainda que entre os 7,1% que consumiram álcool antes de dirigir, apenas 1 estava com a dosagem considerada segura de álcool no sangue: menos de 0,6 g/l. Todos os outros condutores estavam com doses acima de 0,6 g/l – o que é considerado um fator de risco altíssimo para acidentes.

Ao todo, a pesquisa coletou dados de 326 vítimas de acidentes de moto que aconteceram entre fevereiro e maio. Os dados referem-se aos acidentes que aconteceram na zona oeste da capital – região que engloba as duas marginais (do Pinheiros e do Tietê), parte do Corredor Norte-Sul, Avenida Rebouças e outras vias de movimento. Sete morreram no hospital e dez no local do acidente. É nessa região que fica o complexo do HC, referência no atendimento de politraumatizados no trânsito.

Esta foi a primeira vez que os pesquisadores coletaram amostras de saliva dos acidentados e as enviaram para análise num laboratório nos Estados Unidos, que avaliou a presença de álcool e de mais de 30 tipos de drogas no organismo deles. Também foi a primeira vez que a pesquisa realizou uma perícia técnica no local do acidente (referente a 141 vítimas), para analisar a dinâmica do caso.

“É assustadora a quantidade de álcool entre as vítimas. Também chama a atenção o uso de cocaína como agente estimulante. Isso ajuda a explicar a epidemia de acidentes com motos na cidade”, diz a fisiatra Júlia Greve, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela pesquisa. “Os condutores confirmavam o uso de álcool ou droga, o que demonstra que eles não veem isso como um fator de risco para acidente.”

Sem habilitação

Ainda de acordo com a pesquisa, 44% dos acidentados de moto na cidade sofreram lesões graves e politraumatismos, e 23% deles não tinham habilitação para dirigir moto. Apesar de 90% deles estarem usando capacete, só 17,8% estavam com o trio capacete, jaqueta e bota como segurança.

“O fato de 21,3% não terem habilitação é um problema gravíssimo, especialmente considerando o tamanho da frota de motos da cidade. O alto consumo de álcool e drogas também surpreende, pois isso interfere diretamente no sistema nervoso central do condutor, comprometendo as funções cognitivas de atenção e concentração”, diz o chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Junior.

O professor Creso de Franco Peixoto, da Fundação Educacional Inaciana (FEI), diz que, em geral, o motociclista dirige mais com prazer do que com segurança, o que o expõe mais ao risco de acidente. “Eles não acreditam no risco de beber e dirigir e também não têm medo de serem flagrados, já que a fiscalização é precária. O dado sobre uso de drogas é assustador.”

Dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram que a frota de motos na cidade praticamente dobrou nos últimos sete anos: cresceu de 490.754 em 2005 para 962.239 em 2012. No mesmo período, o número de acidentes com motos cresceu 35% e a quantidade de motociclistas mortos aumentou 27%. “A moto é um veículo de transporte rápido e barato. O problema é que nem a cidade nem os condutores estão preparados”, diz Júlia. (Colaborou Luciano Bottini). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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