1,2 mil residências de SP negam acesso de agente de combate ao Aedes

Agentes de saúde da Prefeitura de São Paulo, responsáveis por identificar e combater focos de Aedes aegypti, tiveram o acesso negado em 1.231 residências da capital paulista mesmo estando acompanhados por um soldado do Exército Brasileiro. O número faz parte do mais recente balanço do Comando Militar do Sudeste (CMSE). A Prefeitura afirma que vai analisar em cada caso se há necessidade de recorrer a instrumentos jurídicos para entrar à força na casa.

O balanço do CMSE considera o período entre os dias 18 de janeiro, quando cerca de 100 soldados começaram a participar de visitas na capital paulista, e 10 de fevereiro. Ao todo, 39.987 residências da cidade foram inspecionadas na companhia de um militar. “Para nós, o número de acessos negados é muito satisfatório já que representa cerca de 3% dos casos”, afirma o coronel Afonso Eduardo Lins Barbosa, porta-voz do CMSE.

A presença de um militar durante visitas de agentes de saúde tem como objetivo dar mais segurança aos moradores e credibilidade à operação. As atividades também servem para orientar os paulistanos sobre como prevenir a proliferação do mosquito transmissor de dengue, chikungunya e vírus zika. A estratégia já havia sido usada em 2015, mas com apenas metade do efetivo empenhado neste ano.

Setenta militares acompanham as equipes de saúde na zona norte da capital paulista, região que registrou a maior parte dos casos de dengue no ano passado. Os outros 30 agentes participam de visitas na zona oeste. A parceria entre a Prefeitura e o Exército está prevista para acontecer até junho.

Em outubro, o prefeito Fernando Haddad (PT) sancionou uma lei que permite a entrada à força de agentes sanitários em imóveis particulares, caso o acesso seja negado ou o local esteja desocupado e haja suspeita de foco do mosquito. A Prefeitura afirma que estuda os casos em que houve negação para avaliar se há necessidade acionar o instrumento.

Moradores

Em São Paulo, o acompanhamento do Exército se concentrou nesta terça, 16, na região de Santana, na zona norte. Moradores da Rua Maria Rosa da Siqueira receberam a visita dos agentes de saúde no início da tarde. Cada profissional entrava nas casas seguido por dois soldados que, segundo relatos dos moradores, somente acompanhavam, sem interferir na abordagem.

O comerciante Leandro Gonçalves, de 36 anos, disse que, embora os soldados não tenham falado nada, a presença dos militares oferece mais segurança para as pessoas abrirem suas portas. “Sozinhos, os agentes não vão ter acesso. O Exército torna o contato mais seguro”, afirmou.

Também se sente mais tranquila com os soldados a aposentada Maria Amélia Moreira, de 86 anos. Ela conta que já esperava a visita. “Os soldados que apareceram são dois mocinhos. Acho que ainda estão se formando. Eles entraram, me cumprimentaram, mas não falaram nada. Fizeram só a segurança”, relatou.

Segundo Maria, nenhum criadouro foi localizado pela equipe na sua casa. “O agente olhou meus vasos, que têm areia, e olhou os ralos, que têm tela. Me deixou um papel e falou que em caso de febre alta aqui em casa ou na vizinhança é para procurar um médico e não tomar remédio sem acompanhamento”, disse.

A dona de casa Élia Santo Mauro, de 80 anos, afirmou que, sem os soldados do Exército, não deixaria os agentes entrarem. “Acho muito bom o serviço do Exército. A farda dá outra tranquilidade. Eles acompanharam, mas não falaram nada”, afirmou.

Vizinhos de Élia, moradores de um trecho da rua, lamentaram, no entanto, não ter recebido visita dos agentes e do Exército nesta segunda. A dona de casa Maria Luiza de Paula, de 77 anos, reside em uma casa ao lado de Élia e afirma que, se a vizinha teve visita, foi um “privilégio”. “A gente vê na televisão que o Exército está na rua e até agora não vi nada. Queria ter recebido”, queixou-se.

O projetista industrial de 64 anos, Roberto Koubik, elogiou o apoio presencial do Exército, mas também reclamou que não houve visita na sua casa. “Esperava que os soldados aparecessem, mas não apareceram. Se chega o Exército, é lógico que vou acreditar”, disse Koubik, que já serviu ao Exército como soldado por um ano. O projetista chamou de “excelente” e “maravilhosa” a ideia de incluir o Exército nas visitas dos agentes de saúde.

Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde, que acompanhou a mobilização em Santana, informou que a equipe de agentes de saúde e soldados mantêm visitas concentradas em determinadas áreas durante uma semana. A pasta afirmou que os agentes voltarão nesta quarta, 17, para continuar o trabalho no restante da rua. Na tarde desta quarta, também na zona norte, estão programadas ainda visitas a um trecho da Avenida Brás Leme.

Força-tarefa

Após determinação do Ministério da Defesa, a cidade de São Paulo também recebeu na segunda-feira, 15, o reforço de cerca de 1.550 homens e mulheres das Forças Armadas no combate ao Aedes aegypti. Do total do efetivo, 1.250 são do Exército. A força-tarefa está prevista para atuar até a próxima quinta-feira, 18.

Nos dois primeiros dias de atividade, apenas os cerca de 200 agentes da Aeronáutica não foram às ruas acompanhar os agentes sanitários. Segundo a assessoria do Quarto Comando Aéreo Regional (Comar 4), os militares passaram por formação nesse período e estão à disposição da Secretaria Municipal da Saúde. A Prefeitura afirma que pretende acionar a Aeronáutica em uma segunda etapa da operação.

“Na zona norte de São Paulo, especificamente, os militares da FAB provavelmente serão engajados às equipes do Exército e de agentes de saúde ainda nesta semana”, diz o Comar 4, em nota. A instituição também afirma que a atividade deve ser supervisionada por agentes de saúde e prevê atuação no Cambuci, na zona sul, a partir do dia 22 de fevereiro.

Do total do efetivo empenhado pelo Exército, 420 estão treinados para aplicar larvicidas e inseticidas, enquanto os demais devem apenas acompanhar os agentes de saúde e orientar a população, segundo o CMSE.

Já a Marinha afirma que cerca de 100 militares participam das ações de combate aos focos de proliferação do mosquito. De acordo com o 8º Distrito Naval, os agentes fazem varredura de, no mínimo, dez quarteirões por dia na Vila Mariana e em Moema, na zona sul, de acordo com o 8º Distrito Naval.

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