11,5 mil pessoas a pé rumo a Brasília

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Caminhada deve terminar no próximo
dia 17, na capital federal.

Goiânia – Sob forte sol, cerca de 11,5 mil agricultores, religiosos, indígenas e integrantes de outros movimentos sociais iniciaram ontem na BR-060 uma caminhada que só termina no próximo dia 17, em Brasília. Eles participam da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A marcha partiu do estacionamento do Estádio Serra Dourada às 7h30m, logo após um ato ecumênico. No primeiro dia, o objetivo foi percorrer 16,5 quilômetros. A distância até Brasília é de 200 quilômetros.

Em Brasília, os manifestantes farão um ato na Esplanada dos Ministérios. Eles pretendem entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um documento com as suas reivindicações. De acordo com um dos coordenadores do MST, Roberto Baggio, os sem terra querem, entre outras coisas, que o governo cumpra a meta de assentar 430 mil famílias até o final deste mandato.

?Também temos a intenção de estabelecer um diálogo, uma conversa com a opinião pública. Convencê-la de que hoje temos um governo com as condições ideais de fazer a reforma agrária. Estamos em um momento histórico para fazer isso. Esperamos que o governo faça sua parte desapropriando latifúndios e colocando o aparelho do Estado para funcionar?, explicou Baggio.

No início da marcha, os manifestantes foram escoltados pela Polícia Rodoviária Federal. Duas faixas da pista foram reservadas para o protesto, o que chegou a causar engarrafamentos na saída de Goiânia.

Em São Paulo, numa missa por ocasião do Dia do Trabalho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a reforma agrária está entre as prioridades de seu governo, mas reconheceu que há maneiras diferentes de mensurar seus resultados.

Segundo Valter Misnerovizz, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que encabeça a mobilização, o ?ritmo da reforma agrária do governo Lula está muito devagar e não satisfaz aos movimentos sociais?. Com a marcha, o movimento pretende pressionar o governo para acelerar o assentamento de famílias.

?Na nossa avaliação, o ritmo da reforma agrária não satisfaz os movimentos sociais, não satisfaz ao MST, tanto no que diz respeito a famílias assentadas, quanto ao atendimento e desenvolvimento dos assentamentos. Ainda está muito aquém do que nós esperamos e que temos negociado com o governo, que não vem cumprindo com a meta que acordou com a gente em 2003, quando da Marcha Nacional pelo Plano Nacional da Reforma Agrária?, afirmou.

Acampamento na fazenda

Os integrantes da Marcha acamparam no final da tarde numa fazenda de 250 hectares às margens da BR-060. Lá instalaram banheiros químicos e montaram acampamento. Para a noite, estavam previstas assembléias de avaliação e eventos culturais.

Fazendeiro reclama do prejuízo

Goiânia – Um dos proprietários da fazenda às margens da BR-060 – onde acamparam no final da tarde de ontem os integrantes da Marcha Nacional pela Reforma Agrária -, Renato Costa, foi surpreendido pela chegada da manifestação. ?Até entendo a causa deles, mas acho que tudo isso poderia ter sido acertado anteriormente, para que as coisas pudessem ter sido mais organizadas, sem me causar prejuízo.? Costa tem uma criação de gado de corte em sua fazenda.

De acordo com Roberto Baggio, ?esse local foi escolhido por possuir as condições ideais para esse acampamento. Amanhã cedo (hoje), às 5h, partimos?. A caminhada de hoje terá aproximadamente 19 km. Como ontem, ao final da tarde haverá uma assembléia de avaliação e eventos culturais.

Outros movimentos

Até o próximo dia 17, caminham juntos pela BR-060 integrantes de diferentes movimentos sociais e regiões do País. Na pauta de reivindicações que levam a pé para Brasília, ocupa lugar de destaque a própria Reforma Agrária. Mas há também propostas para melhorar as condições de vida nos assentamentos, defender a Amazônia e a Biodiversidade, combater a violência no campo, alterar a política econômica e dobrar o valor do salário mínimo.

Tanta diversidade motivou a irmã Bertina Rosso, 67 anos, de Aparecida de Goiânia (GO), a acompanhar a caminhada. ?Viemos dar nossa presença solidária para quem está lutando pelo próprio direito. Vamos promover momentos de oração e reflexão espiritual não-obrigatórios?, disse a irmã – da congregação Ursulinas de São Carlos. Assim como ela, o aposentado Inocêncio Barbosa, 68 anos, desafia a idade para chegar a Brasília com a marcha. Ele faz parte do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).

?Sou atingido da Barragem de Cana Brava. Trabalhava no garimpo. A barragem atingiu tudo e fiquei sem renda, passando até necessidade?, conta Inocêncio, hoje morador de Minaçul, em Goiás. ?Espero que essa marcha mostra que muita gente precisa de indenização, que perdeu tudo com as barragens e hoje passa até fome.?

Entre os integrantes do MST, o grupo mais representativo é o de Pernambuco, com cerca de 1,2 mil integrantes. Eles chegaram a Goiânia de ônibus e seguem a pé para Brasília. Assim como outros grupos, arrecadaram em suas cidades alimentos e outros materiais necessários para a maratona dos próximos dias. A maior parte deles caminha de sandálias e, em alguns momentos, descalços. Pendurados nas mochilas, colchões e garrafas de água.

?Os trabalhadores vieram aqui com a esperança de colocar em prática o que discutimos há 20 anos: a concretização da reforma agrária?, revela Missilene Goreti da Silva, 23 anos, educadora do MST em Caruaru (PE).

?Estamos há mais de três meses nos preparando para a marcha e está todo mundo firme e forte pra marchar, vamos enfrentar vários desafios, o clima é diferente do clima da região que a gente veio. Por isso mesmo, o grupo de Pernambuco resolver não trazer crianças.?

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