Uma simples chamada telefônica causa apreensão à empresária Camila Lima. O som da campainha quando ecoa no apartamento faz o coração do aposentado Francisco Luiz da Silva, de 64 anos, palpitar mais forte e se encher de esperança. Eles anseiam por respostas. A angústia, porém, consome os dias de ambos de maneira mais intensa há quase cinco meses. O filho dele, Guilherme Ely Figueiredo da Silva, de 36 anos, e o irmão da empresária, Caio Henrique Pereira de Lima, 29 anos, cumpriam pena por tráfico no Pavilhão 4 da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal. Eles, e outros nove detentos, sumiram após a rebelião em janeiro. Não há nenhum tipo de registro da entrada deles em outras unidades prisionais, hospitais públicos ou privados nem na lista oficial dos foragidos ou mortos.
Coube aos familiares iniciar uma incansável e frustrante procura. “É uma busca desesperadora. Comparo o caso do meu filho com o de Eliza Samúdio, com o de Ulysses Guimarães, cujos corpos jamais apareceram. Ninguém sabe onde eles estão”, disse o aposentado.
Desde a rebelião, Silva não deixou de pensar com mais intensidade no filho. Eles não dividiam o mesmo teto desde abril de 2016, quando Ely foi preso pela última vez. “Minha mulher está em estado terminal de câncer e eu passava dia e noite com ela no hospital. Certo dia, vim em casa e quando fui atender à campainha, uns dez policiais entraram procurando por ele e o levaram. Guilherme consumia drogas, mas não era traficante. Depois, vivemos essa angústia. Tudo piorou depois que ele sumiu de Alcaçuz. O Estado tem de dizer onde está meu filho”, declarou, olhando para uma foto do filho.
Questionado sobre o vazio da ausência, ele respirou fundo e respondeu, com os olhos cheios de lágrimas: “O quarto dele está arrumado, esperando voltar. Fica um vazio, sabe? Eu me sinto apunhalado pela incerteza. Não sei se um dia sentirei ele junto a mim de novo.”
Incógnita
O paradeiro de Ely é uma incógnita reconhecida pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc), responsável pela administração das prisões potiguares. “Nós não sabemos onde ele está”, limitou-se a dizer o titular da pasta, Luiz Mauro Albuquerque Araújo. Informações repassadas por outros detentos ao Estado indicam que os dois homens foram mortos e estão enterrados em um túnel abaixo do Pavilhão 4 de Alcaçuz. O Estado, porém, nega a informação.
Já o nome de Caio Henrique Pereira de Lima aparece na lista do governo como recolhido à penitenciária, mas Camila, garante que ele não está lá. “Não temos notícias dele há quatro meses.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.