Mais de sete milhões de famílias brasileiras estão expostas a uma situação de alta gravidade social e econômica e, por isso, são as mais dependentes de políticas públicas de inclusão social. Elas são consideradas de grande vulnerabilidade porque combinam três fatores: têm crianças, a renda per capita é de menos de meio salário mínimo por mês e o chefe da família tem menos de quatro anos de estudo, ou seja, mal lê e escreve. Nesses 7,4 milhões de domicílios em carência absoluta, vivem pelo menos 27,5 milhões de pessoas.
A situação é mais crítica entre os que vivem nos pequenos municípios e chega a ser dramática nas menores cidades do Nordeste. No País, 22,1% dos domicílios com crianças abrigam famílias muito vulneráveis. Nos municípios que têm entre 10 mil e 20 mil habitantes, a proporção sobe para 40%. Nas cidades de até 20 mil habitantes do Nordeste, chega a 60%.
Os dados fazem parte da pequisa Indicadores Sociais Municipais do IBGE, feitos com base no Censo 2000. Em um CD-Rom, é revelada a situação econômica e social de cada um dos 5.507 municípios existentes naquele ano (atualmente já são 5.560). É possível, portanto, localizar exatamente onde estão as famílias mais vulneráveis, sob aqueles critérios, facilitando o foco das ações públicas. No caso do principal programa federal de combate à pobreza, o Bolsa-Família, a meta para 2005 é de ultrapassar oito milhões de famílias atendidas. O desafio para o governo é fazer o benefício chegar, de fato, aos mais carentes.
"O valor de elaborar um indicador composto de vulnerabilidade é que não aponta apenas uma carência, como a renda ou a educação, mas a combinação de fatores. Esta pesquisa oferece a possibilidade de identificar o público que está vivendo em condições precárias. São famílias que dependem de ações governamentais e emergenciais. Dados tão precisos só estarão disponíveis de novo em 2013 ou 2014, com base no Censo 2010", chama atenção a coordenadora geral da Diretoria de Pesquisas do IBGE, Ana Lucia Sabóia.
No ranking dos dez municípios com maior proporção de famílias em alto risco social, todos do Nordeste, oito ficam no Paiuí. um fica no Maranhão (Centro do Guilherme) e outro na Paraíba (Damião). Em 2000, quando foi feito o censo, a pior situação de todo o País foi registrada em Guaribas, a cidade que nos primeiros dias do governo Luiz Inácio Lula da Silva virou símbolo do combate à pobreza, por ser a primeira a receber o programa Fome Zero, hoje incorporado ao Bolsa-Família. Estão expostas à precariedade social e econômica 91,4% das famílias com crianças da cidade piauiense.
A escolha de Guaribas pelo governo petista já se baseava em outros dados do Censo 2000 que apontavam as más condições de vida da população. Guaribas liderava um índice de alto risco social que analisava a renda do chefe de família e o acesso a saneamento básico e tinha também o maior índice de analfabetismo entre as crianças. "Mesmo mudando os indicadores, as cidades que apontam mais vulnerabilidade são mais ou menos as mesmas", diz Ana Lucia. Do total de famílias mais vulneráveis do País, 4,3 milhões (57%) estão no Nordeste.