Buenos Aires – O governo brasileiro está empenhado no sucesso da Bolívia mas quer garantias para os negócios da Petrobras naquele país. Foi o que afirmou hoje (8), em Buenos Aires, o assessor para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
"Nós estamos firmemente empenhados para que o governo de Evo Morales tenha êxito", disse, para depois enumerar que considera um fato político extremamente importante a eleição de Morales e a idéia de que a Bolívia possa exercer, com qualidade e capacidade, "sua soberania plena e dê garantias plenas para os negócios de maneira geral".
O assessor de Lula não considera "estranho" que a Bolívia passe a ter 51% da Petrobras Bolívia. "Eles passaram a ter o controle da empresa, mas a Petrobras vai avaliar as condições de operacionalidade na Bolívia", alertou.
Segundo ele, durante as negociações que começam nesse semana, na Bolívia, a Petrobras vai "avaliar se vale a pena continuar com suas operações" naquele país. "Estamos tranqüilos, e a sociedade brasileira pode estar tranqüila, porque não só os interesses do abastecimento estão atendidos, mas também os interesses de uma grande companhia brasileira. Não vamos de maneira alguma claudicar na defesa do interesse nacional", enfatizou, para depois acrescentar: "A Petrobras não pode jogar dinheiro pela janela."
Garcia afirmou que o Brasil não teme que a Petrobras não seja indenizada pelas perdas na Bolívia. "A Petrobras será indenizada Se não, estaríamos assistindo uma expropriação e não nacionalização", ressaltou. Para ele, a "indenização tem que ser feita com amplas garantias", inclusive com "auditorias acordadas pelas partes, e já estamos conversando sobre isso com o governo da Bolívia".
Preço – Garcia aproveitou a entrevista para alfinetar a oposição creditando a "motivos eleitorais" a defesa de que o governo deveria levantar o tom de voz nas discussões com a Bolívia. "Isso é bravata, e bravata não fazemos."
O assessor disse que "o Brasil é dependente do gás boliviano, mas não é refém" e ressaltou que "isso pode ser mudado com grande facilidade, embora com grandes sacrifícios".
Segundo ele, o governo brasileiro trabalha com expectativa de que o crescimento do País e de outras regiões do globo vai gerar muita demanda energética. Mas lembrou que um dos trunfos do Brasil "é o fato de que somos responsáveis por grande parte da produção de energia consumida no País, não só de petróleo e gás, mas de energia renovável".
Garcia considera que, mesmo que o Brasil chegue a ser auto-suficiente em energia alternativa, poderia utilizar "um mix desta energia com o gás boliviano". Mas, frisou, o preço (do gás) tem de conveniente. "Se temos uma alternativa mais barata, não vamos pagar mais caro", arrematou.
Ao comentar as entrevistas de ministros bolivianos opinando sobre os reajustes do gás, Garcia disse que o governo "não quer negociar" com a Bolívia por intermédio "da imprensa".
Terras
Indagado se o governo brasileiro teme que Morales tome uma decisão similar à da nacionalização do gás e do petróleo para os produtores de soja brasileiros na Bolívia, Garcia disse que a preocupação existe, especialmente com a forma com que podem ser adotadas as medidas. "Se as coisas forem feitas de forma meio precipitada, ao arrepio da lei, desrespeitando contratos", afirmou, "os investimentos podem não fluir para a Bolívia, e o país sofrer uma crise de credibilidade. Nós acreditamos que o governo Evo não merece isso, pelo contrário".
Segundo ele, "essa é a única preocupação do Brasil", embora, "evidentemente o Brasil tenha interesse em defender os empresários brasileiros no exterior, porque uma das conseqüências positivas das políticas do presidente Lula é a internacionalização de muitas empresas brasileiras. Na Argentina isso é visível", completou. O assessor destacou que essa expansão "ajuda no processo de integração, mas ela só se viabilizará se tivermos um cenário jurídico favorável em cada um desses países".
