O Brasil vai antecipar a produção de gás das reservas existentes segundo informação do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Até 2008, haverá uma produção adicional de 24,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia. É praticamente todo o gás que o Brasil importa da Bolívia, que nacionalizou as suas reservas, e metade do consumo atual do País.
Essa foi uma das medidas aprovadas na reunião de ontem do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), cujo tema foi a independência energética do Brasil. Nessa direção, foi anunciado o desenvolvimento, pela Petrobras, de uma tecnologia inédita no mundo: o uso de óleos de soja e outros vegetais no refino do diesel. O resultado é um combustível igual ao diesel mineral, mas menos poluente. Com isso, será reduzida a necessidade de importação pelo Brasil e o preço tende a cair.
O CNPE também discutiu o uso do álcool em substituição ao gás natural nas usinas térmicas, como antecipou ontem o Estado. Já em setembro, a Usina de Seropédica (RJ) começará a operar com turbinas que funcionarão com gás natural, álcool, diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás natural liquefeito (GNL).
A crise com a Bolívia ficou apenas como pano de fundo nas discussões. "O assunto foi independência energética, só isso", disse o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse contar com a hipótese de que o contrato de fornecimento de gás com a Bolívia será cumprido, portanto não haveria com que se preocupar. "Apenas mostramos que temos uma alternativa", comentou. Questionado se essa seria uma resposta para a Bolívia, ele disse: "Para bom entendedor…"
O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, lembrou que não só o Brasil vai antecipar sua produção de gás, como também vai substituí-lo por outros combustíveis. "A dedução é de vocês" disse ele aos repórteres. "É uma determinação do presidente Lula que o Brasil seja auto-suficiente em todas as suas fontes", disse Rondeau.
A antecipação do gás será feita a partir das reservas encontradas no Espírito Santo. Segundo Gabrielli, são novas descobertas que exigirão uma alteração na rede de gasodutos no Sul e Sudeste. Inicialmente, a previsão era que a reserva levaria de seis a sete anos para começar a produzir. O prazo foi encurtado para dois anos.
A medida mais comemorada pelo governo foi a nova tecnologia do óleo vegetal misturado ao diesel no refino. "É um novo paradigma para a agricultura mundial", frisou Rodrigues. Já no primeiro trimestre de 2007, três refinarias da Petrobras (Paraíba, Pará e Rio Grande do Sul) começarão a refinar o novo diesel, o H-Bio.
Nas estimativas do ministro da Agricultura, isso representará um aumento de consumo de 1,2 milhão de toneladas de soja. Com isso, o governo mata dois coelhos com uma só cajadada: aumenta a independência no diesel e fortalece o mercado de soja, melhorando o preço do produto. Os sojicultores têm estado na linha de frente dos protestos contra a política agrícola do governo.