Com o dinheiro da família e da venda de sua empresa de cosméticos, a OX, para o grupo Bertin há dois anos e meio, Mariângela Bordon poderia passar o dia cuidando dos cabelos. Mas ela tem obsessão é pelo cabelo dos outros. É do tipo que acompanha – testando sempre que possível – as novas moléculas, fórmulas e fragrâncias de xampus, cremes e afins. De seu próprio cabelo, que ela acha meio "ruim", Mariângela não descuida nunca. O dos outros, ela vai passar a tratar a partir do fim de janeiro com uma loja nos Jardins e uma nova marca de cosméticos, a Eos.
A Eos será uma grife de luxo, com ingredientes sofisticados e importados. Os produtos – xampus, sabonetes, hidratantes, perfumes e aromatizadores de ambientes – devem ser 15% mais caros que os do Boticário e 10% mais baratos que os da grife francesa L’Occitane. "As vendas não vão estar restritas à loja, mas eu não vou para a prateleira de supermercado, porque a concorrência está muito grande", diz Mariângela.
A empresária fez fama no mundo dos cosméticos porque conseguiu transformar, em apenas nove anos, um negócio que começou nos fundos da fazenda do pai (um dos maiores exportadores de carne na década de 90) numa empresa com faturamento de R$ 60 milhões.
A nova empreitada vem sendo arquitetada desde a venda da OX. No começo, ela chegou a se associar ao ex-presidente da Avon, Adhemar Seródio, mas a parceria não foi adiante. Para desenvolver e lançar a Eos, Mariângela já tirou R$ 3 milhões do próprio bolso. Em dezembro, a empresa já tem 40 pessoas trabalhando no projeto.
Boa fase
A empresária diz que não é boa de contas. Seu maior talento é criar produtos. Mas o desempenho do seu velho negócio também se deveu à boa fase da indústria de higiene e beleza. Há dez anos o mercado cresce a uma média de 10,6% ao ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).
Neste ano, as vendas no varejo movimentaram R$ 35 bilhões e alcançaram uma marca inédita. Pela primeira vez, o País passou a França no consumo de produtos do gênero. Agora só perde para o Japão e os Estados Unidos. "O crescimento tem sido cinco vezes maior que o da economia", diz João Basílio Ramalho, presidente da Abihpec. "Em 2005, o do Brasil já havia passado o da Alemanha.
Basta visitar uma farmácia ou uma loja especializada para comprovar na prática o vigor dessa indústria. Qualquer consumidor fica confuso diante da profusão de marcas.
Se o cliente prestar um pouquinho mais de atenção, vai perceber outro fenômeno: marcas brasileiras que têm cara de estrangeira. A julgar pela embalagem, matéria-prima e preço, a Eos poderia ser uma marca feita fora do País.
A Eos não é a única. A engenheira mecânica Ana Tereza Bardella, hoje executiva na empresa do pai, a Bardella, também fará parte desse time em breve. Ela está criando a C/Cosméticos, com ingredientes à base de grãos e especiarias. "Será uma marca despretensiosa, mas exclusiva. Queremos concorrer com os importados", conta Ana Tereza, que se associou à bioquímica Ana Paula Abraham para fazer a marca. "Fiquei surpresa com o tamanho do mercado.
Ana Tereza também terá loja em área nobre de São Paulo. A estréia está prevista para 2007. No início, serão 52 itens de banho, pós-banho e produtos para casa (como velas e aromatizadores). "Depois virá a linha de tratamento, que exige mais tempo de pesquisa", diz.
A Sete Cosmetics, criada no ano passado, é outra que poderia passar por companhia estrangeira. A começar pelo nome. Mas é brasileira, nascida em São Paulo. A Sete é especializada em produtos para o rosto. Os seus "pads" (em português: tapa-olho) são o grande sucesso e respondem por 70% das vendas. A caixa com 15 duplas custa R$ 89,90. "Temos preço parecido com os da Biotherm e Clinic, mas somos mais baratos que Lancôme e Shiseido", diz Maurício Chaves, um dos sócios da Sete. "Quando a gente cria categoria, a gente cria glamour." Segundo ele, a camomila do tapa-olho vem da Alemanha e é processada na Suíça.