O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) prepara a instalação de um escritório em Brasília. O objetivo é trazer para cá refugiados de diversos países do mundo, especialmente os colombianos, que sofrem com a eterna guerra civil entre as forças de esquerda, as de direita e os narcotraficantes que se unem, de quando em quando, a uma dessas facções, de acordo com os interesses do momento.
Mas há refugiados também em vários países da África e até um povo inteiro sem pátria, o curdo, lutando há muitos anos por um território próprio. Os conflitos no Oriente Médio parecem sem fim e não poucos são os árabes e até judeus que se sentiriam melhor em uma nova pátria.
O Brasil é um país imenso. Um dos que dispõem de maior território no mundo, grande parte dele inaproveitado. Parece ter, portanto, condições para abrigar os refugiados, tanto mais que os estrangeiros são sempre bem absorvidos pela nação brasileira. Acontece que este imenso país até agora não conseguiu, sequer, abrigar os seus próprios cidadãos. Há luta por uma reforma agrária para que se dêem terras para brasileiros que querem plantar e não têm onde. E terras há. Existem milhões de brasileiros que vivem em favelas miseráveis. E não conseguem conquistar um teto para morar. São muitos os desempregados, os subempregados, os que trabalham na informalidade e o nosso salário mínimo é de míseros R$ 240,00. Que bom se tivéssemos o suficiente para os que aqui já estão! E ótimo, se bem que sonho, imaginar que breve teremos o suficiente ainda para os que, mundo afora, como refugiados, procuram uma nova pátria que lhes ofereça condições de vida decente.
Lembremo-nos, ainda, que mundo afora, especialmente nos Estados Unidos, Canadá, Japão e países europeus, existem “refugiados” brasileiros. São nossos compatriotas que, não vendo oportunidade de vida condigna aqui, se aventuram, muitas vezes de forma ilegal, a uma esperançosa fuga para territórios mais prósperos.
Os dirigentes do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados imaginam fazer do Brasil um novo Canadá, que, como se sabe, é um país aberto à imigração e recebe gente do mundo inteiro, inclusive brasileiros.
Acontece que o país amigo do Hemisfério Norte tem uma população muito pequena, um imenso território, se bem que em grande parte gelado, e carência de mão-de-obra. Mas não basta querer emigrar para o Canadá para fazê-lo. Eles têm, em primeiro lugar, a filosofia de que, quem lá entrar, terá de se transformar em canadense em todos os sentidos, inclusive absorvendo os costumes e cultura daquele país. Estudos prévios do governo do Canadá estabelecem quotas de imigração e exigem a comprovação prévia de habilitação dos candidatos, para que se encaixem no mercado de trabalho e na economia do país que os irá receber. E, ao chegar, esses imigrantes ainda passam por um curso de seis meses, pago pelos próprios refugiados, para aprender a ser canadenses e poder se integrar na vida local.
Nada disso temos, nem mesmo para os próprios brasileiros. Portanto, mesmo que seja nobre a intenção de receber refugiados, não parece que o Brasil tenha condições de fazê-lo adequadamente. Poderíamos desenvolver um projeto de recepção de refugiados, o que demandaria muitas providências para que aqui se adaptassem. Mas, antes, precisamos criar condições para que o Brasil seja realmente um país em condições de dar-lhes o que necessitam. E isto é, infelizmente, o que necessitam os próprios brasileiros.