Brasil não quer mais ação surpresa da Bolívia, diz Garcia

O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, declarou hoje que o Brasil não quer mais "ser surpreendido por ações abruptas, brutais e desastradas" da Bolívia, ao referir-se aos planos de La Paz para a reforma agrária.

Segundo o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo de Evo Morales deu garantias claras ao Brasil de que nenhuma medida da sua "revolução agrária" seria "brutal" para com os cidadãos brasileiros na Bolívia.

A reforma deverá atingir, sobretudo, os cerca de 2.000 brasileiros que ocupam terras na região do Pando, a menos de 50 quilômetros da divisa com o Acre, no Brasil. Mas também poderá afetar os produtores de soja na região vizinha ao Mato Grosso do Sul.

"O recado dado (ao governo Morales) é que queremos negociar todas as questões. Mas não queremos ser surpreendidos por ações abruptas, brutais e desastrosas de quem quer que seja", afirmou Garcia, logo depois de ver abortada a sua exposição sobre a crise bilateral na Comissão de Relações Exteriores do Senado pela ausência de senadores interessados no tema.

Ontem, o Ministério das Relações Exteriores informou que apenas seis brasileiros foram notificados pelo governo boliviano por "possuir propriedades agrícolas ilegais" – e não 40, como foi divulgado por La Paz. A notificação, segundo a assessoria de Imprensa do Itamaraty, não implica a expulsão dos cidadãos dessas terras nem do país vizinho, mas apenas o início de um procedimento judicial, que poderá ou não culminar com a devolução dessas propriedades ao Estado boliviano. O caso está sendo acompanhado pela embaixada do Brasil em La Paz.

Segundo Garcia, o governo brasileiro não se mostra indiferente aos interesses da Petrobras na Bolívia. Além das negociações em andamento entre a companhia brasileira e a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), prossegue o diálogo entre os ministros Silas Rondeau, de Minas e Energia, e de Hidrocarbonetos, Andrés Solíz Rada. A rigor, a revisão do contrato entre a Petrobras e o governo boliviano – inclusive o reajuste no preço do insumo – deverá ser concluído até o próximo dia 1º de outubro.

Para Garcia, o último "episódio tenso" nas relações entre o Brasil e a Bolívia, desde o anúncio do decreto de nacionalização do setor de gás e a ocupação militar das plantas da Petrobras no país, se deu em Viena, em meados de maio. Porém, já teria sido superado.

Dia 11, em entrevista à imprensa internacional previamente organizada, Morales acusou a Petrobras de sonegar impostos e de contrabandear gás. No dia seguinte, recuou e culpou a imprensa. Dia 13, ao receber Morales no hotel em que estava hospedado, em Viena, o presidente Lula deixou claro que estaria disposto a manter o canal aberto para uma "negociação franca". Porém, destacou que o governo brasileiro não discutiria por meio da imprensa nem fomentaria uma "guerra verbal".

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