Os aviões, como o Brasil, não decolam. Há uma relação direta entre o atraso econômico do país e a operação-padrão dos controladores de vôo que está deixando milhares de passageiros dormindo nos aeroportos, esperando por horas dentro de aeronaves paradas ou simplesmente embasbacados diante dos painéis de avisos que ou nada informam, ou dizem que os vôos estão atrasados ou cancelados. Verifica-se um caos total na grade aérea comercial nacional. Os aviões de pequeno porte, executivos, agora só podem decolar com hora marcada. A idéia é diminuir o trânsito aéreo, possibilitando que haja mais vias disponíveis para os aviões comerciais. Mesmo assim, o caos continua.
O motivo imediato surgiu de uma tragédia. Poderia ser de mais de uma. Cento e cinqüenta e quatro pessoas morreram na queda de uma aeronave da Gol, na Amazônia, quando se chocou com um moderno avião executivo, por estarem voando na mesma altura. Culpa de quem? As investigações prosseguem com interrogatórios e exames na caixa-preta da aeronave que caiu. Mas, por mais que se descubra, a coisa fica cada vez mais preta. Buscam culpados, o que pode ser uma obrigação das autoridades competentes, mas já se sabe que a verdadeira culpa é da incompetência. Ou melhor, da incúria do próprio poder público.
Os controladores de vôo do aeroporto de Brasília entraram em licença para tratamento de saúde porque não suportam nem a responsabilidade que injustamente se imagina tiveram no desastre, nem a permanência da sobrecarga de serviço, que faz com que cada homem (homem; não super-homem ) tenha de controlar ao mesmo tempo um número exagerado de aviões voando. Estes, que ficaram doentes psicologicamente, talvez de raiva, lembraram aos seus colegas de todo o país que não podem fazer greve, pois são militares e, por isso, nem sindicato podem ter. Mas é legítimo que realizem uma operação-padrão, ou seja, trabalhem de acordo com as normas internacionais. São regras que garantem segurança nos vôos e a vida dos passageiros. Vidas que os passageiros e tripulantes do vôo da Gol perderam no maior desastre de aviação já ocorrido neste país.
Se o movimento operação-padrão, que está tornando um inferno o movimento nos nossos aeroportos, tivesse ocorrido antes das eleições, é bem possível que Lula perdesse milhares de votos de eleitores da classe média e alta, usuários de aviões como meio de transporte. Por quê? Seria o presidente reeleito o único responsável pelo acontecido? Evidentemente não, embora uma parte da culpa caiba à sua administração. O governo brasileiro, este e os que o antecederam, sempre descuidaram de suprir a aeronáutica de controladores de vôo em número suficiente e seguro para dirigir o tráfego aéreo. Sendo militares e profissionais altamente habilitados, não só merecem remuneração condigna como também condições adequadas de trabalho. Nunca uma sobrecarga que os leve à estafa e, há poucos dias, que chegou a causar enfarte em um desses profissionais, quando estava em pleno trabalho numa torre de controle.
O que se fez, em especial no primeiro mandato de Lula, foi reformar ou construir aeroportos de luxo em várias capitais. Um orgulho para o Brasil, símbolo de que este é um país que decola para o desenvolvimento. Mas o que não decolam são os aviões que não precisam de paredes e pisos de mármore e espelhos, mas de profissionais habilitados em numero suficiente, remunerados de maneira justa e trabalhando em condições de segurança. Mas a política de segurar o dinheiro para pagar as dívidas do governo, sonegando verbas indispensáveis para o desenvolvimento, tem feito com que o Brasil não decole. Agora, os aviões também não decolam.