Porque há desespero ou porque ainda restam esperanças, a verdade é que, para as próximas eleições, o empresariado, que antes esteve quase sempre unido em torno do candidato de centro, desta vez admite apoiar candidaturas de esquerda. A linguagem que as esquerdas usam para cooptar os candidatos oposicionistas é, basicamente, o problema das altas taxas de juros, sem dúvida algoz das atividades empresariais. Já próximo do fim de seu mandato, Fernando Henrique Cardoso deixa uma taxa básica (Selic) de 18,30% e os juros bancários em patamares que são considerados dos mais altos do mundo. A atividade empresarial depende de créditos, que hoje são poucos, curtos e caros. Isso leva o empresário ao desespero e à crença de que, com um novo governo, que não seja necessariamente situacionista, existem esperanças de uma política de juros mais consentânea com o objetivo geral de retomada do desenvolvimento.
Todos os candidatos oposicionistas pregam a queda imediata das taxas de juros. Alguns, sem explicar como vencer as conseqüências negativas disso, como a perda de competitividade dos títulos brasileiros no mercado financeiro e a possibilidade de elevação da inflação. Outros, imaginando que o problema da rolagem da dívida brasileira, e mesmo a retomada do desenvolvimento, seriam possíveis com o imediato e expressivo aumento das exportações e com a queda interna das taxas de juros, reativando a economia. Uma boa idéia, só que não acontece da noite para o dia, enquanto a rolagem da dívida tem a freqüência e a urgência de um “overnight”.
Resta um segmento do empresariado que continua apoiando a atual política econômica, o atual governo, seu bem sucedido esforço, via Plano Real, para conter a inflação em níveis bem suportáveis e a rolagem da dívida externa, com um acompanhamento diário e minucioso. Dentre estes está Antônio Ermírio de Moraes, que há cerca de uma semana discursou na Confederação Nacional da Indústria, em cerimônia em que esteve presente Fernando Henrique Cardoso, reafirmando seu apoio ao governo e enfatizando que não há lugar no Brasil para pessimistas e para dirigentes de “pavio curto”, o que foi tido como referência direta ao candidato Ciro Gomes. Recomendou juízo nas cabeças de todos os pretendentes da coroa brasileira e asseverou: “Precisamos de gente firme, de bom senso e de determinação”. Para Ermírio, cujo perfil é o de empresário progressista, é preciso que “tenhamos decência para discutir as questões com grandeza”. Ele, que talvez seja o maior empresário do País, disse que é preciso dar passagem só de ida para os pessimistas, pois eles não cabem no Brasil, país que tem um bom futuro, independentemente de quem seja eleito.
O político paulista (de origem pernambucana) repetia, de certa forma, o que têm tentado dizer ao mundo as nossas atuais autoridades da área econômica e o próprio presidente FHC: que seja quem for o eleito, salvo vença um “pavio curto” precipitado, o Brasil seguirá seus passos com cautela, cumprindo seus compromissos e buscando, para seus maiores problemas, soluções possíveis e viáveis. Os discursos de campanha, que às vezes surgem com fórmulas mirabolantes, não levam em conta o que já foi feito e o que ainda pode ser construído. E muito menos as dificuldades para atender os justos anseios através de fantasiosas promessas eleitorais. Os brasileiros precisam acreditar no Brasil para que os mundo também nele acredite.