Brasil, EUA e Cuba

Há diferenças entre o Brasil, os Estados Unidos e Cuba. Mas não evidenciam adesismo do nosso governo ao mais forte nem aplauso político a um dos últimos governos comunistas do mundo. Existem temas em que discordamos dos Estados Unidos e nos aproximamos de Cuba. E outros em que admitimos associação e concordância com os EUA, sempre preservando o interesse nacional. O Brasil gostaria que em Cuba existisse uma clara e indiscutível democracia. Mas mantém a sua política de não intervenção em assuntos que dizem respeito exclusivamente aos cubanos, ao contrário dos Estados Unidos da América, que se julgam com direitos à intervenção em outros países quando contrariam suas posições políticas e econômicas. Em certos campos, o governo brasileiro tem boas e crescentes relações com Cuba. Com os Estados Unidos, no campo econômico, relações em visível deterioração.

O chanceler brasileiro, Celso Lafer, em Havana, onde negou que existam planos para estabelecer uma base militar norte-americana no Nordeste do Brasil. “Posso afirmar categoricamente que não recebi nenhuma indicação dessa natureza sobre uma base norte-americana no Nordeste do Brasil”, afirmou em entrevista coletiva. E acrescentou que “não parece conveniente ou razoável uma discussão nesse sentido. Não está na agenda diplomática nem do Brasil nem dos Estados Unidos.”

Não obstante, a discussão sobre o assunto existe na campanha eleitoral brasileira, onde a denúncia, mesmo que falsa, interessa a certos candidatos. Quanto a haver ou não interesse, mesmo que não expresso, dos Estados Unidos em ter uma base militar no Brasil, não é de se duvidar, quanto mais agora em que se delineia uma política imperialista de George W. Bush.

Lafer lembrou que mais de duzentos jovens brasileiros estudam em Cuba e um número similar de técnicos e profissionais cubanos trabalham no Brasil. E acrescentou que no campo da produção de açúcar, em que Cuba está fechando 50% de suas fábricas, em busca de maior eficiência, a experiência brasileira pode ser-lhes de grande valia e haver colaboração.

Nem somos tão anti-Cuba quanto desejaria o governo norte-americano, nem tão americanistas quanto alardeiam setores da oposição brasileira.

Um outro exemplo dessa independência brasileira deu Lafer ao falar da Alca, proposta pelos EUA, combatida pela esquerda e que sofre reparos de candidatos à Presidência da República. O nosso chanceler disse, em Havana, que “uma Alca que ofereça ao Brasil acesso a mercados de natureza não discriminatória, que nos permita acesso a nossos bens que hoje encontram dificuldades no mercado norte-americano, como o aço e o suco de laranja, com regras mais transparentes e mais aceitáveis, é uma Alca que poderemos trabalhar”. Acrescentou que “uma Alca que não seja a expressão da reciprocidade de interesses é uma Alca que nosso Executivo não aprovaria e o Congresso não ratificaria”. Este claro posicionamento brasileiro, expressado por seu chanceler, Celso Lafer, num país comunista como Cuba, não é do agrado dos Estados Unidos. Evidencia que existem mais boatos que fatos na suposta base norte-americana no Nordeste brasileiro e na adesão incondicional à Alca. Não fazem parte dos planos do nosso governo. Mas fazem barulho nos discursos de campanha eleitoral, para manipular o eleitorado.

Nem somos tão anti-Cuba quanto desejaria o governo norte-americano, nem tão americanistas quanto alardeiam setores da oposição brasileira.

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