O governo entrincheirou-se sob números e índices econômicos para construir seu prestígio ou mesmo segurá-lo depois da explosão da crise ética e política. É difícil para a maioria dos brasileiros aquilatar o significado desses números e índices. Eles, quando anunciados de forma positiva, ruidosamente e com fundo de musiquinhas, fazem muita gente crer que as coisas vão bem, obrigado. E que, por isso, as denúncias de irregularidades, mensalões e quejandos, ou são falsas, ou irrelevantes. Isso torna viável a reeleição de Lula e faz muita gente acreditar que as denúncias são criação artificial da oposição. Há mesmo os que nelas acreditam, mas diante de resultados econômicos e sociais positivos, olham os governantes com condescendência e até aprovação. Há indulgência para quem ?rouba, mas faz?, como se apregoava desde os tempos do político paulista Adhemar de Barros.
Desta vez, entretanto, a revelação pelo IBGE, órgão do próprio governo, mas que goza de independência técnica e científica, de que o PIB brasileiro caiu 1,2% no último trimestre, vai fazer com que muita gente ponha a viola no saco. E os homens do governo se sintam numa posição extremamente incômoda. A prosseguir essa situação, poderá numa primeira hora tirar o tapete do ministro da Fazenda, Antônio Palocci e, em seguida, esvaziar a candidatura já posta de Lula à reeleição.
O PIB, como muitos sabem e a maior parte da nação desconfia, é um índice de valor essencial, pois significa o Produto Interno Bruto, ou seja, tudo o que o Brasil produz em indústria, agricultura, comércio e demais setores de serviços. De que adianta dizer que as coisas melhoraram aqui e ali se, no todo, o Brasil, que vinha crescendo em percentuais inferiores aos da média mundial, menores do que os dos países em desenvolvimento e menores até dos verificados em países latino-ame-ricanos, agora está encolhendo.
Estamos crescendo, insistem. Mas a queda do PIB demonstra que, neste final de ano e a não muito tempo das eleições, crescemos como rabo de cavalo: para baixo.
Considere-se, ainda, que a população e suas necessidades crescem todos os dias e reclamam, portanto, um desenvolvimento econômico cada vez maior e bem acima do que vinha sendo alardeado. E, agora, números incontestes mostram o encolhimento da economia. Esse encolhimento é atribuído basicamente a dois grupos: a indústria e a agricultura, vale dizer, os principais setores produtivos e geradores de mão-de-obra extensiva. Isso faz prever, para um futuro não muito distante, repercussões no setor de emprego. Setor que o governo diz que vai bem porque conta mais carteiras de trabalho assinadas, mas que há analistas que sustentam que não passa da formalização do trabalho informal.
As causas dessa queda do PIB são muitas, desde a crise política e ética do governo, até a política fiscal de Palocci apoiada por Lula e criticada por Dilma Rousseff. Acrescentem-se as elevadas taxas de juros, o problema da pecuária com a febre aftosa, a repercussão da sobrevalorização do real sobre o dólar e a não-execução de programas governamentais de infra-estrutura, mesmo alguns para os quais há verba consignada, mas entesourada, e teremos um quadro nada alentador e que pode ditar novos rumos para a sucessão presidencial que se aproxima.