As relações entre o Brasil e a Espanha, sejam políticas, econômicas, culturais ou de outra natureza, sempre foram de boas a excelentes. Infelizmente, nos últimos tempos, estão se deteriorando, por causa de atitudes truculentas de autoridades de imigração daquele país europeu, escudadas, segundo os espanhóis, em normas da comunidade européia.
Brasileiros têm sido detidos no aeroporto de Barajas, em Madrid, quando lá chegam tendo a Espanha como destino final ou mesmo quando estão a caminho de outros países e se utilizaram de vôos que têm escala na capital espanhola. Seria compreensível se fossem tomadas medidas cautelares apenas para evitar a imigração ilegal, o que acontece com relativa freqüência. Mas nos casos recentes, em especial no último ainda pendente de solução, nada menos de trinta brasileiros foram detidos, dentre eles universitários que se dirigiam a um simpósio científico que se realiza em Portugal.
A arbitrariedade se acentua quando é verificado que o tratamento dado aos brasileiros que legitimamente se destinam à Espanha ou apenas fazem escala naquele país é de criminosos. São isolados, guardados por policiais e cães e lhes negam alimentação e até água.
Argumentam as autoridades espanholas que seguem as normas da comunidade européia e que os brasileiros detidos, muitos deles ainda em prisão e outros simplesmente mandados de volta ao Brasil, não se apresentam em conformidade com tais exigências.
Em tempo as autoridades brasileiras decidiram tomar uma atitude enérgica, chamando às falas a representação diplomática espanhola no Brasil, intervindo através de nossos diplomatas na Espanha e até cogitando de adotar atitude de reciprocidade. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Se os brasileiros não são bem-vindos na Espanha, por que os espanhóis seriam no Brasil?
É certo que a retaliação não é um caminho escolhido porque sejamos um povo que se apraz com atitudes de revanche, mas adota-la é um meio de mostrar aos espanhóis que o nosso país quer que seus cidadãos sejam tratados com o devido respeito e, para obter isso, que não é um favor, mas um direito, está disposto às últimas conseqüências.
Coincidência ou não, enquanto trinta brasileiros eram detidos em Madrid, em Salvador oito espanhóis que chegavam ao Brasil foram impedidos de ficar em território nacional. Não foram detidos da forma arbitrária como aconteceu com os nossos conterrâneos em Madrid, mas simplesmente mandados de volta. E não foi uma atitude gratuita, mas estribada na verificação da ausência de algumas exigências que a nossa legislação impõe para o ingresso em território nacional.
Se há exigências rigorosas da União Européia e que têm de ser verificadas por todos os países membros, é imprescindível que sejam suficientemente divulgadas para que não sejam submetidos brasileiros ou membros de outros países não europeus aos constrangimentos que se repetem na chegada à Espanha.
De qualquer forma, a tradição de amizade entre o nosso país e o do rei Juan Carlos não autoriza um ?cala a boca? como impôs ao folclórico e inconveniente chefe de Estado venezuelano Hugo Chávez.
Pode ser que a detenção e repatriação dos oito espanhóis que chegaram a Salvador não tenha sido um ato de retaliação, mas se foi, embora lamentemos ter de tomar tal atitude, ela vem a calhar numa hora em que é preciso mostrar à Espanha e à União Européia que o Brasil exige que seus cidadãos sejam tratados com respeito e que é inadmissível que universitários convidados para simpósios científicos sejam confundidos com marginais e como tal tratados na Espanha.
Ainda devem os espanhóis recordar-se que seu país é um destino turístico dos mais importantes do Velho Continente e a xenofobia que vêm revelando que está deixando de ser atraente para quem quer empreender uma viagem cultural ou de lazer.