Brasil é BBB

A agência de avaliação de risco Standard & Poor?s elevou nos últimos dias a nota de risco de crédito do Brasil de BB para BBB. A promoção do nosso País ao grau de investimento deve atrair mais inversões estrangeiras, de acordo com declarações feitas pelo diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o hemisfério ocidental, Anop Singh. Na opinião daquela autoridade internacional, essa elevação da visão que o mercado tem do Brasil cria um cenário para que o governo aprofunde reformas, o que ajudaria o País a cumprir seu pleno potencial.

O anúncio, segundo Singh, demonstra confiança dos investidores nas políticas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, quando eleito, o atual presidente brasileiro, hoje em segundo mandato, provocou desconfianças do mercado financeiro. Era tido como um risco por seu discurso de esquerda, contrário às políticas fiscais e de relações com o mercado externo que integram o que se convencionou chamar de neoliberalismo. Políticas que já vinham de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, mas que sob Lula, ao invés de serem abandonadas, foram aprofundadas. Um termômetro desse aprofundamento foi a política de obtenção de crescentes superávits fiscais que empreendeu o atual governo brasileiro e prossegue, bem ao gosto do FMI.

?O País demonstrou compromisso com este marco ancorado na lei de responsabilidade fiscal, metas de inflação e regime de câmbio flexível que ajudou a consolidar a estabilidade macroeconômica e reduzir as vulnerabilidades?, acrescentou Anop Singh. Concluiu aquela autoridade que essas políticas levaram a um cenário de inflação baixa, crescimento elevado e redução da pobreza e das desigualdades. Veja-se que são conclusões coincidentes com o discurso e a propaganda governamental.

A elevação da nota de risco de crédito do Brasil pela Standard & Poor?s faz prever dois movimentos no sentido contrário. Num deles, a invasão do Brasil por capitais estrangeiros aplicando em investimentos de risco, mas também em especulação financeira. O Banco Mundial (Bird) já colocou à disposição do Brasil US$ 7 bilhões para serem sacados até o ano 2011. No sentido contrário, negativo, há previsão de uma queda do saldo comercial, que em 2008, calcula-se, ficará em US$ 22 bilhões, quando no ano passado atingiu mais que o dobro, US$ 46 bilhões.

Mais oferta de dólares, menores suas cotações. Isto é desastroso para o comércio internacional do Brasil, cujas mercadorias se tornam mais caras lá fora. A cada dólar vendido, menos receita entra no País e os exportadores chegam a ficar impedidos de comercializar seus produtos. Dir-se-á que têm o mercado interno para desovar o que não conseguem colocar no exterior. Isto é verdade, mas uma meia-verdade quando se sabe que os preços internacionais, em muitas mercadorias, não são diferentes dos praticados pelo mercado interno. A formação de preços é feita no mercado internacional. Isto causa altas de preços inaceitáveis pelos consumidores brasileiros que já enfrentam uma inflação preocupante.

A elevação do Brasil à categoria BBB é um fato positivo. Não há como negar. Mas uma faca de dois gumes que traz também seus malefícios e para os quais deve o nosso governo estar atento, compensando com medidas fiscais e subsídios.

Vale aqui lembrar que tudo o que está acontecendo e sendo objeto de orgulho e aplausos é, exatamente, o que os nossos atuais governantes consideravam indesejável, como seja, a chamada política neoliberal, pecado de que acusam o governo FHC, mas que repetem em maiores doses.

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