O Brasil, em dez anos, será a quinta economia do mundo (Guido Mantega, O Estado de S. Paulo de 11/9/09, p. B7). Será? Não há dúvida que a crise mundial conferiu ao Brasil um destaque incrível, em termos mundiais.
O Brasil foi um dos poucos países (ao lado da China e da Índia) que saíram rapidamente da turbulência financeira. Mostrou alguns fundamentos (economia interna forte, estabilidade bancária etc.) que não estavam presentes nem sequer nos Estados Unidos (ou na Europa). Se o Brasil crescer entre 5 e 6% por ano, nos próximos dez anos, sim, poderá ser uma das cinco economias mais prósperas do planeta.
Do que necessitamos para crescer 6% ao ano? Desde logo, infraestrutura e educação. Ambos os itens têm tudo a ver com a expansão e qualidade dos serviços de banda larga, que não é boa.
O Brasil está entre os piores países do mundo no item qualidade da internet banda larga (ou seja, internet rápida). O mundo está globalizado, logo, a quantidade de vídeos e textos lançados diariamente na internet é exorbitante.
Mas o que adianta todas as informações estarem disponíveis se não conseguimos ter acesso a elas? A web permite todas as conexões necessárias entre os múltiplos textos disponíveis na internet. Mas para ter acesso a tudo dependemos da banda larga (e bem larga, diga-se de passagem).
Um estudo recentemente divulgado (com 42 países) demonstrou que a internet brasileira ocupa posição risível. Só apresenta vantagem em relação a quatro países (dos pesquisados): Chipre, México, Índia e China. A pesquisa foi encomendada pela empresa Cisco e realizada pelas Universidades de Oxford (Reina Unido) e Oviedo (Espanha).
A internet no Brasil, de um modo geral, ainda se apresenta como totalmente inadequada para se ter acesso a vídeos ou mesmo baixar (donwloading) pequenos arquivos. Em outras palavras: ainda é um inferno navegar pelas nuvens da internet no Brasil.
A pesquisa mencionada, de acordo com o site tudoagora.com.br, “levou em conta a velocidade do acesso, os atrasos na rede e a perda de dados e, a partir desses dados, deu uma nota para o serviço de banda larga de cada país. “Nós estamos olhando para a qualidade, não para a penetração”, afirmou, em nota, Fernando Gil de Bernabé, diretor da Cisco.
O estudo afirma, consoante o site citado, que a velocidade mínima adequada para baixar arquivos na internet é de 3,75 Mbps (megabits por segundo). No Brasil, pesquisa da própria Cisco considera banda larga a internet com velocidade de 128 kbps (muito inferior ao desejado).
O levantamento mais recente da empresa diz que existiam 10 milhões de conexões de alta velocidade no Brasil no final de junho de 2009, 48,3% mais que no mesmo período do ano passado.
O ideal será, dentro de até cinco anos, uma velocidade de download ainda maior, de pelo menos 11,25 Mbps, para que o usuário consiga ter boa qualidade ao assistir a vídeos de alta definição, por exemplo.
A matéria conclui: “As velocidades médias de download são adequadas [em 23 países] para navegar pela rede, trocar e-mails e para baixar e fazer “streaming” [transmissão direta pela internet] de vídeos básicos, mas estamos vendo cada vez mais aplicativos interativos, mais conteúdo gerado pelos usuários sendo colocado na rede e compartilhado, e uma quantidade crescente de serviços de vídeos de alta qualidade tornada disponível”, afirmou Alastair Nicholson, pesquisador de Oxford.
Pela pesquisa citada somente o Japão – que tem o melhor serviço no momento – já tem uma internet com qualidade suficiente para atender as necessidades dos usuários daqui a cinco anos.
Depois da internet japonesa, os melhores serviços são oferecidos por Suécia, Holanda e Estônia. Outro país báltico, a Lituânia, aparece na sétima colocação no levantamento.
Em meados de outubro de 2009 a Finlândia transformou o acesso à banda larga em direito do cidadão (Veja de 21/10/09, p. 110). O significado dessa iniciativa legislativa é mais ou menos o seguinte: já não existe vida sem internet. Exageros à parte, estamos caminhando para isso.
A economia e a educação, sem internet, não experimentarão grandes progressos. Os direitos fundamentais do indivíduo costumam ser classificados como de primeira geração (direitos e liberdades civis básicas), de segunda geração (direitos sociais) e de terceira geração (direitos difusos, coletivos etc.).
O direito à banda larga, muito provavelmente, será inscrito na quarta geração (direitos inerentes ao mundo globalizado e informatizado). Um direito atrelado ao desenvolvimento econômico assim como è educação. A banda larga tem tudo a ver com o PIB de cada país assim como com a evolução do conhecimento individual.
Duas iniciativas no sentido de difundir a banda larga no Brasil já foram tomadas (uma pelo governo do Estado de São Paulo e outra pelo governo federal). Ambas são louváveis mas, convenhamos, estarão muito aquém do necessário.
Os experts falam na necessidade 3,75 Mbps (megabits por segundo), para se ter uma internet rápida com qualidade. No Brasil estamos falando de 128 kbps ou mesmo 256 kbps.
O programa de São Paulo sinaliza com uma internet de 200 kbps a 1 Mbps. Na Finlândia, a partir de julho de 2010, todo cidadão tem direito a 1 Mbps. Em 2015 serão 100 Mbps (para cada cidadão).
Tags internet, banda, larga, aplicativos, da, web, Mbps, Banda, larga, no, Brasil, é, uma, das, piores, do, mundo No Brasil o acesso à banda larga ainda é muito caro e pouco eficiente.
A internet japonesa, sem sombra de dúvida, é o sonho de consumo de todo habitante (plugado) do planeta. Por mais ou menos 70 reais é possível ter acesso (no Japão) a uma internet de 100 Mbps (4 seria o necessário, 12 seria extraordinário) (cf. El País de 16.09.09, p. 24). Metade da população japonesa já navega nessa velocidade (100 Mbps).
Coréia do Sul é o segundo país do mundo em maior velocidade na internet (média de 45 Mbps). Os países asiáticos citados, em matéria de banda larga, estão muito à frente dos demais. Neles a segregação digital diminui a cada dia.
O século XIX foi marcado pela segregação cultural (poucos tinham acesso às informações). O século XX foi marcado pelas segregações raciais e espaciais. Algumas ainda perduram, mesmo depois da queda do muro de Berlim (novembro de 1989).
Aliás, essa queda transmitiu a sensação de que os vários muros segregacionais do século XX (de Israel, das duas Coréias, entre Ceuta e Melila, entre México e EUA) fossem todos destruídos. Não foi isso o que ocorreu. Eles continuam, mas no século XXI a maior segregação é, sem sombra de dúvida, a digital.
Milhões e milhões de pessoas ainda não possuem conexão com a internet. Uma população maior ainda não conta com acesso à banda larga. Brasil se insere dentre os países de pior classificação nesse item.
Como se vê, há muito que se fazer nessa área, que constitui um dos gargalos que temos que superar para se alcançar o progresso desejado (Brasil como quinto país do mundo).
Em 2014 vamos sediar a Copa do Mundo. Em 2016 o Rio de Janeiro será o palco das Olimpíadas. Aqui temos dois excelentes pretextos para jogar duramente na evolução da banda larga.
Tanto no Japão como na Coréia do Sul o desenvolvimento nessa área se deu por meio de programas governamentais. No Brasil, ao que tudo sugere, é possível que dois programas venham a prosperar: um público e outro privado. O privado para aqueles que contam com disponibilidade financeira, o público para atender populações de baixa renda.
A telemedicina, a tele-educação etc. dependem desses avanços tecnológicos. O domínio da internet está nas mãos dos EUA (Google, Microsoft, Yahoo, Facebook etc.). A dianteira da banda larga está nas mãos dos países asiáticos.
É nesse contexto de amplo predomínio externo que o Brasil deve se inserir. Tanto o desenvolvimento econômico como o individual está atrelado ao chamado potencial emancipatório das redes digitais. Mas essa emancipação pressupõe, lógico, que a população brasileira massivamente tenha acesso à internet rápida.
O Brasil é o quinto país do mundo em celulares (150 milhões no final de 2008) e na internet (segundo a ONU). Em setembro de 2009 alcançamos a marca de 166 milhões de celulares.
Isso ainda está longe da China (641 milhões), Índia (346 milhões), EUA (270 milhões) e Rússia (187 milhões), mas já representa um avanço notável. Em 2008 o Brasil tinha 50 milhões de pessoas conectadas à internet. Chegou a 65 milhões em julho de 2009.
Brasil é o primeiro país do mundo em tempo de navegação na internet. Isso vai se alterar extraordinariamente quando a banda larga for totalmente difundida entre nós. Aqui reside um dos nossos grandes desafios. Avante!
Luiz Flávio Gomes é doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri, mestre em Direito Penal pela USP e diretor-presidente da Rede de Ensino LFG. Foi promotor de Justiça (1980 a 1983), juiz de Direito (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). www.blogdolfg.com.br
