A principal defesa do governo Lula nesta severa crise em que procura não afundar tem sido os resultados da economia. Mas devemos estar preparados para o pior: que a economia não mais blinde o governo e que o heróico migrante nordestino e ex-operário, depois da façanha de chegar a ser o chefe da nação, simplesmente fracasse, até por não saber conduzir nem a economia. Ou dela não colher resultados satisfatórios.
É preciso ser otimista, como prega o presidente, e olhar com atenção, mais que com satisfação, os resultados colhidos do desenvolvimento econômico. Mas ficar sempre com um pé atrás, pois de bem-intencionados o inferno está cheio. Quanto mais de intenções malignas, que não faltam entre os nossos dirigentes, como têm provado os recentes e repetidos escândalos.
O que se tem chamado de sucesso da economia é um cotejo entre índices que permitem as mais variadas equações. Um crescimento de 100%, por exemplo, pode ser dobrar milhões na produção ou apenas transformar uma colheita de feijão de uma saca em duas. Comparam-se com freqüência números de hoje com os que, no passado, não importa quando, foram inferiores. O cotejo nem sempre alcança o período imediatamente anterior e os resultados, na maioria das vezes, são positivos, porém muito aquém do progresso econômico de que necessitamos. Com todo esse desenvolvimento econômico, capaz até de blindar temporariamente o presidente, o Brasil continua sendo um país em desenvolvimento, com mais cara de pobre do que de quem está enricando. E com diferenças sociais gritantes, revoltantes. O desenvolvimento econômico do nosso País, se comparado ao do conjunto das nações, é pífio. E se comparado com o de países até com menos território e potenciais, é insatisfatório. Já comparando-o com as necessidades do nosso povo, é uma gota d?água num oceano de necessidades. Um dado que acaba de ser revelado pelo Fundo Monetário Internacional é que, assim como nos dois últimos anos, em 2005 o Brasil terá uma taxa de crescimento econômico abaixo da média mundial, dos países latino-americanos e de emergentes como a China e a Índia. O FMI rebaixou a estimativa de crescimento do PIB e cita a crise política e os juros altos como causas da redução da previsão.
De outro lado, a situação econômica mundial, notadamente por causa dos altos preços do petróleo e conflitos armados e mesmo comerciais, não monta um cenário dos mais promissores. Assim, acreditemos no nosso desenvolvimento econômico, mas desconfiando sempre. Desconfiando, pelo menos, de que pode não ser duradouro. Os índices industriais já acusam desaceleração, o que é preocupante.
As cautelas que devemos tomar devem ser capazes de, num cenário político como o atual, tornarem os sucessos econômicos palpáveis, duradouros e suficientes. Isso porque, em matéria de situação política, a coisa vai de ruim a pior e se deteriora a cada dia. Já atingiu o PT, partidos aliados do presidente, a Câmara dos Deputados e rodeiam Lula e sua família. Seus auxiliares já foram, em boa parte, atingidos. É de pensar se o mundo continuará confiando indefinidamente num país que navega em mares tão turvos e malcheirosos. Por enquanto, a economia não vai bem, mas vai menos pior do que seria de se esperar.