O compositor Braguinha foi enterrado neste domingo (25) ao som de algumas de suas composições mais célebres: "Carinhoso", "Chiquita bacana" e "Touradas em Madri". Ele foi sepultado no mausoléu da família, no cemitério São João Batista, no Rio, a três meses de seu centenário. As comemorações serão mantidas, conforme disse o sambista Martinho da Vila, presente à despedida.
Junto ao corpo, que havia sido velado durante todo o dia no Palácio Pedro Ernesto, onde funciona a Câmara dos Vereadores do Rio, estava a viúva, dona Astréa, com quem ele foi casado por 68 anos. Levada numa cadeira de rodas, ela foi amparada pela filha única, Maria Cecília, por netos e bisnetos. No momento do sepultamento, os presentes, familiares e admiradores, se uniram numa salva de palmas.
Martinho da Vila contou que, na semana passada, esteve com o compositor para tratar dos festejos pelos cem anos – que seriam completados em 29 de março de 2007. "Vamos continuar mesmo sem Braguinha, numa homenagem. Ele seria o primeiro compositor brasileiro a atingir o centenário", disse Martinho. Braguinha morreu no domingo, de infecção generalizada.
Realizado no dia do Natal, o velório de Braguinha não atraiu muita gente. Além de familiares, poucos fãs e personalidades passaram pelo Palácio Pedro Ernesto, em cujo hall de entrada foi colocado o caixão. Durante todo o dia, quem esteve por lá relembrou seus versos e melodias, cantados em uníssono.
O governador eleito do Rio, Sergio Cabral Filho, foi com o pai, o jornalista e pesquisador musical Sergio Cabral, cumprimentar a família. Os dois destacaram a identidade do compositor – carioca nascido na zona sul e criado na zona norte – com a cidade. "Braguinha é a cara do Rio", lembrou Cabral, o pai. O prefeito Cesar Maia também esteve no velório, depois de deixar flores na estátua do artista, na praia de Copacabana (erguida em alusão à sua música "Copacabana", parceria com Alberto Ribeiro lançada em 1946). "Ele era um compositor completo".
Emocionada, a filha de Braguinha lembrou os bons momentos proporcionados por ele à família e ao público. "Ele me deu muita alegria, nunca me deu uma tristeza. Foi um homem da família, que viveu para minha mãe e para mim. E também alegrou a vida da povo."
O neto Carlos Alberto Braga disse que pediu ao prefeito que seja plantado um flamboyant junto à estátua, em Copacabana, uma forma de atender ao pedido que o avô fez em "Velho Flamboyant: "Quando eu morrer/ não esqueçam de plantar / um flamboyant perto à terra/ à terra em que descansar". A letra da música foi colocada perto do caixão, durante o velório, junto a um cartaz feito pelos bisnetos de Braguinha, com fotos e mensagens de carinho. O caixão foi levado num carro do corpo de bombeiros até o cemitério.
Ainda na noite de sábado, quando chegou à Câmara, o caixão foi coberto com a bandeira da Mangueira, escola de samba que homenageou o compositor com um belo enredo, em 1984 – que levou a agremiação ao título de campeã do carnaval. Para 2007, a escola mirim Mangueira do Amanhã planeja reeditar o tema; agora, sem a presença do homenageado.