Brasília, 27/11/2016 – Ignorada pelo governo federal em seus pacotes de concessão rodoviária, a BR-158 é hoje a única rota de escoamento de grãos da região nordeste de Mato Grosso, área de maior crescimento do agronegócio no Estado. Apesar da relevância logística, a estrada aberta há mais de 30 anos ainda está em leito natural, repleta de atoleiros e pontes de ferro apodrecidas. Regularmente, registram-se casos de quedas de caminhões de carga e mortes de motoristas.

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Dentro da reserva Marãiwatsédé (que na língua xavante significa mato fechado ou mata perigosa), o trecho da rodovia tem 114 quilômetros de extensão. Os índios obtiveram a declaração de sua terra em 1993, mas a área de 165 mil hectares só foi homologada pela União em 1998, tendo sido completamente invadida por não índios nos anos 1990.

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Após anos de brigas judiciais, os xavantes conseguiram retornar à região em 2012. Os não índios tiveram de sair e a cidade que havia ali foi derrubada. O tráfego pela estrada, porém, nunca parou. Atualmente, 7 milhões de toneladas por ano, colhidas em mais de 1,5 milhão de hectares, passam pelas terras dos xavantes.

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Em 2014, o governo chegou a analisar a possibilidade de fazer um contorno na estrada, passando por fora da reserva. Mas o traçado bateu em cima de um cemitério indígena e foi abandonado.

O governo de Mato Grosso fez as contas sobre o impacto financeiro de um segundo contorno. A viagem aumentaria em 70 quilômetros. A pavimentação do trecho da reserva, avaliada em R$ 250 milhões, saltaria para R$ 528 milhões. O custo do frete, segundo o governo estadual, cresceria cerca de R$ 170 milhões por ano. E os gastos anuais com manutenção do trecho seriam R$ 8 milhões maiores que aquele previsto para o traçado que hoje corta a reserva indígena.

“Em dez anos, esses valores chegariam a mais de R$ 2 bilhões. Então, está na hora de sermos pragmáticos e falarmos de desenvolvimento para o índio e o não índio. Desviar a pavimentação é isolar os índios desse desenvolvimento. Sob o pretexto de preservá-los, estamos acabando com eles, ao abandoná-los”, diz Carlos Fávaro, vice-governador do Estado e responsável pela pasta de Meio Ambiente.

PEC

O governo do Estado está de olho no andamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que altera regras de demarcação de terras, ao retirar essa atribuição do governo, repassando-a para o Congresso Nacional. O Executivo estadual defende um aperfeiçoamento da proposta. O governo da ex-presidente Dilma Rousseff considerava a PEC inconstitucional. O atual ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, também se manifestou contra a mudança. (André Borges) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.