Boneca gigante de seios nus causa polêmica em Olinda

Com os seios à mostra, "A Despeitada" abriu nesta terça-feira (20) o desfile do 20º Encontro de Bonecos Gigantes em Olinda como um marco de mudanças no evento. A ousadia do bonequeiro Silvio Botelho gerou polêmica ainda na concentração, no pátio da Igreja do Guadalupe, antes de 100 bonecos gigantes ganharem as ruas do sítio histórico da cidade. Em 20 anos do encontro, é a primeira vez que um boneco tira a roupa.

"É uma apelação, quebra o espírito do desfile dos bonecos. O carnaval de Olinda não é de nudismo, é fincado na cultura popular", reclamou a corretora Flaviana Rondon, acompanhada de dois filhos pequenos. "Isto é puritanismo hipócrita", reagiu o administrador de empresas Luciano Albuquerque. "Não é um peito de fora que vai desvalorizar a cultura", argumentou.

Para evitar danos e mais confusão, os seios foram cobertos com um pano vermelho. Para Silvio Botelho, idealizador e organizador do encontro de bonecos na terça-feira de carnaval, "quanto mais polêmica, melhor". A Despeitada – segundo ele inspirada em "um figura" e criada para provocar despeito nas mulheres não tão bem dotadas – é o início de uma nova fase. "No formato em que se enquadrou, o encontro dos bonecos corre o risco de ficar chato", afirmou Botelho, que pretende acrescentar abre-alas e alegorias ao evento nas próximas edições. "Queremos que os Bonecos sejam para o carnaval de Olinda o que o Galo da Madrugada é para o carnaval do Recife."

Além da "despeitada", outros dez bonecos gigantes novos engrossaram o encontro, com cem componentes no total. Um boneco retratando o mais famoso passista de frevo do Estado, Nascimento do Passo, homenageou os 100 anos do frevo. A maioria representa figuras da cultura popular, do carnaval, da cidade, mas também há políticos e bonecos de empresas patrocinadoras do evento.

Neste ano, todos os bonecos que desfilaram em Olinda funcionaram como outdoors ambulantes das marcas de bebida Pitu, Montilla e Nova Schin. O custo total do evento, que envolve mais de 400 pessoas, foi de R$ 130 mil, de acordo com o produtor Leandro Castro. O preço inclui o show para animar a concentração e 160 músicos que acompanham o desfile.

Silvio Botelho não teme descaracterizar um carnaval cuja fama se fez a partir da espontaneidade dos foliões ao transformar os gigantes em "bonecos propaganda". "O custo é alto e alguém tem que bancar", afirmou. "Se os órgãos governamentais não bancam, a gente procura quem patrocine." Os mais tradicionais bonecos gigantes de Olinda, "O Homem da Meia-Noite" e "A Mulher do Dia", criados respectivamente em 1932 e 1967, não participam do encontro de bonecos.

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