Já se afirmou que o comportamento momentâneo do PMDB, frente ao oferecimento de mais dois ministérios no afã do presidente Lula de recompor seu governo, é típico da balzaquiana que está a fim de casar mas lança mão de todo um aparato de salamaleques para mostrar bom senso e apuro na escolha do pretendente.
O PMDB tem dois ministros da Esplanada – Comunicações e Previdência Social – e na nova partilha imaginada pelo presidente, poderá aumentar sua participação com os ministérios da Integração Nacional e Cidades.
A manha costumeira do partido-ônibus quanto às prebendas acenadas por Lula, manifesta-se no zelo pelo aparente legado de grandeza política que julgam encarnar o presidente nacional da sigla e os governadores estaduais, assim como alguns condestáveis como o ex-governador Orestes Quércia.
Todos os políticos adoram falar na importância da governabilidade e quanto estão dispostos a sacrificar-se para consegui-la, mas no fundo o que almejam mesmo é quantificar as vantagens ou desvantagens pessoais no curto e médio prazo.
O melhor exemplo é dado pelo ex-governador Anthony Garotinho, de olho gordo na candidatura à Presidência da República, portanto ferrenho adversário da idéia de o PMDB vir a aumentar sua participação no ministério. Assim também se pronuncia Germano Rigotto, governador do Rio Grande Sul, para quem o PMDB deve ajudar Lula votando a favor dos projetos de interesse nacional, mas sem ocupar cargos de primeiro escalão.
Garotinho, dando como favas contadas a candidatura pelo PMDB, aposta na depreciação contínua da administração lulista, para então emergir em 2006 a cavaleiro de um repaginado populismo capaz de preencher no imaginário da massa a frustração deixada pelo ex-metalúrgico. Pode ser uma fantasia, mas agrada.
A maioria governista da Câmara e do Senado deseja eliminar de vez a ansiedade de Lula, e indicar logo os novos ministros. José Sarney e Renan Soares seriam os responsáveis pelas indicações e no rolo que se formou, a equação pode fechar com a oportuna substituição de Eunício de Oliveira e Romero Jucá.
Mesmo sem esquinas, Brasília é hoje a capital da boataria, das cavilações e murmúrios, e nesse caldo põem a colher a manicure e a madame, o engraxate e o ministro togado. É o Brasil.