No dia seguinte às manifestações contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) em todo o país, os demais presidenciáveis aproveitaram o debate realizado neste domingo (30) na Record para criticar o capitão da reserva e cobrar dos adversários compromisso com a democracia. O capitão da reserva – que é líder nas pesquisas de intenção de votos e foi homenageado em atos neste domingo – foi alvo de cinco adversários, somente durante o primeiro bloco do debate.
Os presidenciáveis bateram muito na tecla do combate à polarização entre o PT e Bolsonaro na eleição, criticaram propostas consideradas antidemocráticas de Fernando Haddad (PT) e do capitão da reserva, além de pregar o diálogo como solução para os problemas do país.
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Quem trouxe o assunto à tona foi Henrique Meirelles (MDB), que perguntou a Ciro Gomes (PDT): “Nenhum país democrático tem um Bolsonaro como presidente. Nós temos aqui um país onde as pessoas se combatem e ele próprio lidera esse combate. O que nós podemos fazer para promover mais confiança e um melhor entendimento entre os brasileiros para que não se caia nesse radicalismo e nós possamos construir um Brasil, criar uma política de crescimento e combater o desemprego ao invés de apenas combater uns aos outros?”.
Ciro aproveitou a deixa e disse que essa é, para ele, a questão mais importante dessa reta final da eleição. O candidato lembrou que ao ser contestado o resultado da eleição de 2014, o país mergulhou em uma crise política e econômica e disse que o radicalismo atinge agora seu apogeu. “Justo na hora em que temos uma ocasião para pedir ao povo brasileiro que ponha a mão na cabeça e reflita um pouco para que a gente possa unir o Brasil”, respondeu.
“Os radicais sempre tentam fugir do problema se escondendo atrás do radicalismo. Isto não resolve o problema. O ódio não cria empregos, a vingança só cria destruição”, respondeu Meirelles, que aproveitou para destacar que o Brasil precisa de uma política “de entendimento” e de um presidente capaz de dialogar com vários segmentos da sociedade.
“Capacidade de diálogo talvez seja o requisito maior para encerrar essa radicalização”, concordou Ciro.
Marina também comprou a briga
Ciro continuou criticando Bolsonaro ao dirigir uma pergunta para Marina Silva (Rede). Ele perguntou o que a candidata acha da frase “assustadora” de Bolsonaro sobre o resultado das eleições. Em uma entrevista ao jornalista Datena, na sexta-feira (28), Bolsonaro disse que não vai aceitar uma derrota. “Eu não aceito um resultado das urnas diferente da minha eleição”, disse o presidenciável – afirmação que repetiu também em entrevista ao Jornal Nacional logo após ter alta.
“O Bolsonaro tem uma atitude autoritária, antidemocrática, desrespeita as mulheres, desrespeita os índios, desrespeita os negros, desrespeita a população brasileira. Mas com essa frase ele também desrespeita a Constituição, desrespeita o jogo democrático. Em uma democracia, se não temos comprovação de que houve uma fraude, não se pode entrar no jogo se for para você ganhar de qualquer jeito. Para mim essas palavras de Bolsonaro, além de desrespeito à democracia, só podem ser uma coisa: o Bolsonaro fala muito grosso, mas tem momentos em que ele amarela. E amarela mesmo, porque isso são palavras de quem já está com medo da derrota”, respondeu Marina.
A presidenciável da Rede também aproveitou para criticar o PT e seu candidato, Fernando Haddad. “No Brasil nós temos que enfrentar dois projetos autoritários: aqueles que tem saudosismo da ditadura e aqueles que fraudaram as eleições de 2014”, disse Marina. “O Brasil não precisa ficar entre a espada da corrupção e a cruz do autoritarismo do Bolsonaro”, completou.
“Acho que todos os nossos ilustres adversários aqui nesse debate temos que firmar nosso compromisso com a democracia”, disse Ciro, em resposta à Marina.
A candidata, por sua vez, continuou atacando Bolsonaro e Haddad. Para ela, os dois têm propostas que não se sustentam. “Como, por exemplo, a proposta do PT, de que quer controlar a imprensa, quer controlar o Poder Judiciário e o próprio candidato disse que vai chamar uma Constituinte sem dizer quais são as bases dessa Constituinte. Isso é igualmente um risco a democracia”, alerta Marina. “O PT e Bolsonaro são cabos eleitorais um do outro e temos que combater esse autoritarismo”, completou.
Alvaro Dias (Podemos) foi o escolhido por Marina para continuar o assunto. Ao responder Marina, ele também atacou a polarização na campanha. “Estamos assistindo a marcha da insensatez nessa campanha eleitoral ”, disse.
#EleNão
Guilherme Boulos (PSOL) foi o primeiro a falar diretamente sobre as manifestações contra Bolsonaro realizadas no sábado. “Quero parabenizar as mulheres brasileiras pelo show de democracia, pelo show de coragem”, disse. “Foi o início da derrota de Bolsonaro”, completou o candidato.
Geraldo Alckmin (PSDB) também saudou as mulheres que participaram dos protestos.
Neste domingo, foi a vez de manifestantes pró-Bolsonaro realizarem atos. Mas o assunto não foi citado no debate.
Ausência de Bolsonaro
A ausência de Bolsonaro foi criticada pelos adversários no debate. O capitão da reserva recebeu alta do hospital neste sábado (29) e não compareceu por orientação médica. “Eu, no outro debate, vim com a sonda pendurada na perna em respeito aos ilustres opositores e à sociedade brasileira porque nós temos que debater”, disse Ciro.
O candidato do PDT foi hospitalizado um dia antes do último debate, no SBT. Ele recebeu alta no dia do programa e compareceu ao debate. Marina Silva também lamentou a ausência de Bolsonaro no debate.
Mesmo antes de sofrer o atentado em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro já dava indicativos de que não participaria dos debates. Ele chegou, inclusive, a cancelar a participação em um debate que seria realizado pela Jovem Pan.
Haddad também foi alvo de ataques
Haddad e o PT também sofreram ataques ao longo do debate. Os adversários criticaram as propostas consideradas antidemocráticas do PT, além de criticar os casos de corrupção do governo petista.
Boulos começou a conversa com Haddad amistoso, relembrando união deles contra o “golpe”. Em seguida, a crítica: “É inexplicável ver você de mãos dadas com Eunício Oliveira [MDB, presidente do Senado] e Renan Calheiros [MDB]. Acha que esse é o único jeito para governar o Brasil?” Na resposta, Haddad enrolou: “A democracia exige tolerância e diálogo”.
A Constituição no debate
Ciro Gomes pediu para que Haddad explicasse a proposta de criar uma nova Constituinte no país – proposta considerada antidemocrática pelos adversários. Haddad explicou que a ideia é criar condições para que fosse realizada uma nova Constituinte para uma Constituição mais moderna, que possa reequilibrar poderes da República, refazer sistema tributário, criar regras para sistema bancário e rever o sistema de Previdência.
“Não existe poder Constituinte no presidente da República. E o mais grave, que você e eu sabemos bem e a sociedade brasileira precisa saber, que as Constituições nasceram para frear a prepotência dos poderosos. É para pôr limites aos poderosos que ciclicamente ocupam o poder que existem as Constituições”, rebateu Ciro.
“O general Mourão propõe a mesma coisa: fazer uma constituinte de notáveis e submeter uma nova Constituição”, completou Ciro em relação a proposta do vice de Bolsonaro.
“Meu compromisso com a democracia não é de hoje. Eu lutei pelas Diretas, lutei pela Assembleia Nacional Constituinte. Eu repudio desde a juventude todos os governos autoritários, de direita e de esquerda. Para mim, a liberdade e a democracia vêm sempre em primeiro lugar, e a soberania popular. Para mim tudo se resolve pelo voto, não por um conselho de notáveis. É o voto que vai decidir o destino do país”, retrucou Haddad.