Em clima pré-eleitoral, durante ato de entrega de 3,5 mil cartões do Bolsa
Família a pessoas de baixa renda em Santo André, reduto do PT no ABC paulista, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou hoje (4) ao seu tema preferido de
campanha – a fome – e fez uma defesa entusiasmada das políticas sociais do seu
governo. Com o Palácio do Planalto em situação embaraçosa por causa das
denúncias de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil
(IRB), Lula defendeu a prioridade pelos pobres feita pelo seu governo e atacou
supostos críticos dessa opção. O segmento das famílias de baixa renda tem
sustentado a popularidade de Lula em alto índices, segundo as últimas pesquisas
de opinião, mesmo com um processo de desgaste da imagem presidencial e do
governo.
"Tem muita gente no Brasil que se incomoda quando a gente faz
política para pobre. Tem muita gente que gostaria que os R$ 7 bilhões que a
gente está dando para o Bolsa Família não viessem para os pobres, mas fossem
para os ricos, como sempre foi nesse país. Eles gostariam que os R$ 9 bilhões
que nós estamos dando para a agricultura familiar fossem para outro tipo de
investimento".
Ao referir-se ao Bolsa Família, criado pelo governo como
resposta ao fracasso da iniciativa do Programa Fome Zero, o presidente disse que
ele se consolidará neste ano como o "maior programa de transferência de renda
existente na face da Terra". Segundo prometeu Lula, até 31 de dezembro o
programa passará a atender 8 milhões e 700 mil famílias. E a meta do governo,
até o final de 2006, é atender as 11,4 milhões de famílias catalogadas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na linha abaixo da
pobreza.
Em resposta aos críticos do caráter "assistencialista" do Bolsa
Família, Lula, no discurso, disse que é muito cômodo e fácil para quem nunca
passou fome ou ficou desempregado tachá-lo dessa forma. "O Bolsa Família é uma
ajuda. Só sabe a importância disso quem já ficou um final de semana em casa, a
mãe, um monte de filhos e o marido, um olhando para a cara do outro sem ter o
que colocar para cozinhar". Numa repetição do discurso que gostava de fazer na
campanha presidencial, citou o próprio exemplo familiar para dizer que ele é
capaz de compreender a importância do Bolsa Família. Lembrou que em 1965 morava
em São Caetano, também no ABC, junto com a mãe, duas irmãs e o irmão, Frei
Chico, quando "um ficava olhando para o outro para ver se tinha um bocado de
feijão com água para colocar no fogo". "Eu sei que isso acontece com muitos de
vocês e muita gente nesse país 30 anos depois", completou Lula.
Além do
Bolsa Família, Lula enumerou outras feitos alçancados pelo governo na área
social. Citou o aumento dos recursos do governo federal destinados à agricultura
familiar. O presidente destacou que, no começo do seu governo, apenas metade dos
R$ 4 bilhões disponibilizados pelo Banco do Brasil para financiamento de
pequenos produtores rurais foi sacada. "A gente descobriu que tinha muito
gerente do Banco do Brasil que tinha desaprendido a atender pobre, a atender
pequeno agricultor. Estava acostumado apenas a atender grandes proprietários de
terras". Este ano, segundo Lula, o volume de recursos tomados de empréstimo
pelos pequenos agricultores triplicou em relação a 2003: dos R$ 7 bilhões
disponibilizados para a safra 2004/2005, R$ 6,25 bilhões foram
sacados.
Lula citou ainda a oferta de vagas nas universidades criadas
pelo Prouni, o programa do governo que paga bolsa integral ou parcial para
alunos de baixa renda na rede particular de ensino superior. Para arrematar o
clima eleitoral, anunciou que o governo vai criar a Universidade Federal do ABC.