Depois de purgar prolongado período de espera pelo licenciamento ambiental, afinal liberado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), autorizando a construção das usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, o governo brasileiro mostra-se resoluto na eliminação dos obstáculos, incluindo os de natureza diplomática.
A leitura correta dessa intenção é facultada pela posição assumida pelo governo diante das reclamações oriundas da Bolívia, tendo em vista que as usinas programadas estão localizadas em regiões próximas à fronteira com o referido país. O governo vizinho explicitou seu temor quanto aos riscos de inundações em áreas fronteiriças, com inevitáveis prejuízos aos habitantes e produtores rurais.
O compromisso de Brasília é manter o governo boliviano informado das conseqüências ambientais decorrentes da construção das usinas, embora tenha descartado a consulta prévia sobre os propalados impactos das obras. A posição do governo foi transmitida pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Para os principais auxiliares do presidente da República, a demora na expedição do licenciamento ambiental para as usinas acarretou um desgaste que o governo poderia ter evitado, não fosse o acirramento dos ânimos entre os núcleos que lutam pelo desenvolvimento econômico em ritmo mais acelerado, e os que se batem pela preservação do patrimônio natural.
Portanto, ao governo do presidente Evo Morales, assegurou o chefe do Itamaraty, nenhuma informação sobre as usinas do Madeira será negada, embora não haja a remota hipótese de suspensão das obras, que segundo Amorim constituem ?um direito? brasileiro. Além disso, o ministro frisou que haverá a distância média de 40 quilômetros entre as barragens e a linha divisória com o país andino.
Autoridades bolivianas insistiram nos últimos dias quanto à necessidade de estudos ambientais mais aprofundados, com o que o Brasil não concorda, alegando que o Ibama estudou a problemática sob todos os ângulos possíveis e imagináveis, incluindo na consulta especialistas de renome mundial.
A usina Santo Antônio será leiloada em outubro, porquanto o governo corre contra o tempo e espera introduzir no sistema a energia produzida no Madeira já no início da próxima década.
