Perseguido pelo cardeal Joseph Ratzinger no período em que, como frade franciscano, era um importante porta-voz da Teologia da Libertação, o teólogo e escritor Leonardo Boff disse hoje que terá "dificuldades em amar esse papa, por causa de suas posições perante a Igreja e o mundo". Boff desejou que o escolhido "pense mais na humanidade, especialmente nos pobres, do que na Igreja". Disse ainda esperar que Ratzinger "mantenha o diálogo com outras Igrejas e com a ciência, para buscar os melhores caminhos para a humanidade".
Na avaliação do teólogo, em relação a temas polêmicos da Igreja Católica como o celibato dos padres, o sacerdócio das mulheres, pesquisas com células-tronco e homossexualismo, Ratzinger manterá as posições conservadoras de João Paulo II e será "ainda mais fechado". Ressalvou, no entanto, que "como cristão", mantém a posição de "aceitar e respeitar a decisão, fruto da escolha dos cardeais".
Silêncio
Ratzinger foi o responsável pela punição de "silêncio obsequioso" imposta a Boff em 1985, já no pontificado de João Paulo II. Na época, o papa diminuiu a duração do castigo que era por tempo indeterminado, para um ano. Em entrevista recente Leonardo Boff, que se desligou da Igreja em 1992, disse que Ratzinger "é um dos cardeais da Cúria mais odiados" e estimou que "jamais fosse eleito papa, porque seria um excesso do mesmo, coisa que a inteligência dos cardeais não permitiria". O teólogo lembrou que muitos cardeais foram humilhados pelo colega alemão em várias conferências, pois o novo papa sempre tratou questões da religião "de forma autoritária".
Outro episódio de Ratzinger lembrado por Boff aconteceu pouco antes de o teórico da Teologia da Libertação ser punido pelo Vaticano. Segundo Boff, João Paulo II determinou a Ratzinger que chamasse o frade a Roma e ouvisse seus argumentos, antes de decidir a punição. Boff reconhece que Ratzinger é um "teólogo eminente" foi "a cabeça do papa" durante o pontificado de João Paulo II , apontado como "limitado" no campo teológico e dogmático.