Deveria ter sido uma preocupação inicial. Mas só agora, quase meio ano depois da posse e um tempo bem maior desde o início da transição, o governo federal está começando a se preocupar com boas notícias. E o faz, segundo se fala no Planalto, tangido pelas notícias ruins que pululam nos jornais, no rádio e na televisão. “Esse governo – disse um assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – é muito sensível ao que dizem os meios de comunicação”. Embora os meios reflitam o pensamento mediano dos cidadãos, melhor seria que o governo fosse sensível à situação dos brasileiros.
Depois que subiu a rampa, Lula produziu uma série de discursos em que fez questão de dizer-se um grande conhecedor do Brasil e dos brasileiros. Adicionou esperanças extraordinárias nos corações ao cultivar aquela imagem de um retirante nordestino, pobre de tudo, que conheceu na pele o milagre da sobrevivência, conhecimento esse enriquecido ao percorrer o País de norte a sul nas sucessivas campanhas eleitorais. Chegou a sugerir que o País estava começando tudo do zero. A realidade, mutável a cada dia, atropelou os conhecimentos acumulados de Lula. A situação, hoje, é de penúria ainda maior.
Não é, absolutamente (para usar um termo em moda), a imprensa ou os meios de comunicação que constroem a realidade. Eles apenas a refletem, às vezes de forma pálida. De qualquer forma, neste ato de refletir, sempre transmitem uma situação já preexistente. O que vale dizer que quando se consignam índices de desemprego, estes já aconteceram e, no ato da divulgação, podem inclusive já ter sido modificados. A um governo sério não deveriam interessar apenas o que dizem os meios de comunicação, mas, muito mais, o que de fato acontece.
Dizer-se sensível ao que afirmam ou criticam os meios de comunicação tem seu lado bom, mas, em outras palavras, é também admitir que o governo cultiva o pouco saudável hábito de jogar para a platéia. E age contraditoriamente: afinal, o governo segurou (e elevou) os juros básicos nas alturas, sempre alegando a necessidade de criar as condições sólidas para o desenvolvimento futuro. Até que a chiadeira atingiu um ponto insuportável. Baixou, simbolicamente, meio ponto na taxa Selic e, na esteira, anuncia que vai abrir o saco de bondades mesmo antes das reformas previdenciária e tributária, até aqui enumeradas como o ponto de partida para o início de qualquer ação. Ora, ou o discurso de antes estava furado, ou o de agora é artificialmente fabricado ao sabor de uma realidade que já começa a balançar os índices de popularidade.
E na abertura desse saco, fica-se sabendo, por exemplo, que nem tudo é tão programado assim, seja no campo social, como o Fome Zero, quanto no de obras, como a reforma e construção de estradas. Num desses momentos de arroubo, Lula prometeu liberar recursos num montante de R$ 1,4 bilhão para obras de saneamento nos municípios. Ficou sabendo depois da promessa empenhada que isso não é possível. “Ninguém me avisou que havia impedimentos para o repasse”, exclamou o presidente, já ordenando que encontrassem uma solução para o impasse…
Seria essa a “vontade política” que Lula dizia faltar para a solução de todos os males do Brasil? Mas então por qual motivo não se passa logo à ação também em outros campos? Ainda há esperança, por exemplo, de que no pacote de boas notícias que está sendo engendrado no Planalto constem itens como o início da geração de empregos (a primeira parte daqueles dez milhões prometidos em quatro anos), que seria o sinal inconteste do início da também aludida nova era de crescimento. Essa, sem dúvida, seria a melhor de todas as notícias.
