Enquanto a Petrobras discute a sua situação na Bolívia, o maior banco de fomento da América Latina, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), inicia negociações com o governo boliviano para a concessão de financiamentos que permitam à Bolívia importar produtos brasileiros. A mando do Palácio do Planalto, uma missão do BNDES esteve na sexta-feira em La Paz para apresentar as modalidades de financiamentos disponíveis na instituição. Foi o primeiro contato e espera agora o retorno dos bolivianos
A decisão de enviar diretores do BNDES à Bolívia numa missão de governo foi acertada na reunião entre o presidente Evo Morales e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Caracas, ocorrida na noite de terça-feira da semana passada. Evo pretendia politizar a negociação do contrato de gás em curso entre a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPFB) e a Petrobras. Lula recusou discutir o preço do gás, mas introduziu temas para uma "agenda positiva" entre os países. Ambos participaram, em Caracas, da solenidade que marcou o ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul
Segundo uma fonte que participou da reunião em La Paz, a Bolívia busca recursos para adquirir cerca de 300 tratores agrícolas com potência entre 80 e 140 cavalos de força. Entre as máquinas, estão plantadeiras e colheitadeiras
A comitiva brasileira não era composta exclusivamente por membros do banco. Representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também participaram do encontro com integrantes do governo da Bolívia. A associação dos fabricantes ficou encarregada de montar o grupo formado apenas por montadoras de tratores agrícolas. Entre as empresas participantes estavam a New Holland, John Deere, Agrale e a Case. "A idéia foi não privilegiar ninguém. Se a Bolívia decidir comprar tratores produzidos no Brasil, terá de escolher entre as várias concorrentes", disse a fonte ouvida pelo jornal O Estado de S.Paulo
Uma outra linha de crédito pode vir a ser oferecida pelo BNDES para a construção de uma rodovia no território boliviano. O governo Evo pretende construir uma estrada interligando a cidade de La Paz ao Norte do País, no Departamento de Pando. A estrada tem 800 quilômetros e custo estimado em US$ 600 milhões
A reunião de sexta-feira teve caráter meramente explicativo, de detalhamento das modalidades de financiamento, além das condições a que a Bolívia teria de se submeter caso opte por essa fonte de recurso. Uma delas é a vinculação dos eventuais empréstimos à compra de bens e serviços de empresas brasileiras. "Isso é muito comum para instituições vinculadas a um país, como o BNDES. É diferente, por exemplo, no caso da concessão de empréstimos de organismos multilaterais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)", explicou a fonte