Apesar da pressão cada vez maior em seu Partido Trabalhista, Tony Blair recusou-se a estabelecer uma data para sua saída do cargo de primeiro-ministro, dizendo numa entrevista publicada nesta sexta-feira (1º) que seus críticos deveriam deixar de ser obcecados sobre quanto tempo mais ele ficará no poder. Especulações sobre quando Blair abandonará a chefia do governo tem dominado a cena política britânica há meses – e está crescendo com a aproximação da conferência nacional do partido.
Muitos trabalhistas temem que a crescente impopularidade do premiê ofereça uma chance para o Partido Conservador voltar ao poder. Mas Blair não quis discutir o assunto na entrevista ao jornal The Times, e pediu para que o deixem se concentrar em seu trabalho. "Não sou eu quem continua levantando essa questão", reclamou Blair. "Penso que se as pessoas estão preocupadas com especulações, existe uma resposta simples – parem de especular".
O jornal The Times perguntou repetidamente a Blair se a conferência anual de 24 de setembro seria a sua última como líder. Mas Blair apenas repetiu que não pretende buscar um quarto mandato e que dará a seu sucessor – acredita-se que seja o secretário do Tesouro Gordon Brown – tempo suficiente para se estabelecer no cargo antes de liderar o Partido Trabalhista nas eleições previstas para 2009.
Mas os críticos não ficaram satisfeitos.
"É muito egoísmo não dizer ao partido quando ele vai se afastar" opinou a parlamentar trabalhista Geraldine Smith. "Ele tem um dever com o partido de ser aberto e honesto e declarar quais são suas intenções. Não podemos continuar nessa situação… Precisamos alguma clareza e precisamos olhar para o futuro e precisamos saber quem vai nos liderar na próxima eleição geral".
Pedidos para que Blair deixe o poder depois de nove anos no cargo partem agora de um espectro cada vez mais amplo do Partido Trabalhista, e não apenas da esquerda descontente, que há muito quer sua saída. Mesmo antigos leais seguidores agora afirmam que chegou a hora do mais bem sucedido líder do partido em uma geração dizer adeus. "O ambiente mudou dramaticamente", contou Smith.
Dois fatores cruciais alimentaram a repentina intensificação do sentimento anti-Blair no partido, que vem crescendo desde que o primeiro-ministro decidiu apoiar a guerra do presidente americano, George W. Bush, no Iraque em 2003. Muitos trabalhistas ficaram ultrajados com sua recusa em exigir um rápido cessar-fogo nos recentes combates entre Israel e o Hezbollah libanês, e consideraram que ele continuava sendo um fiel amigo de Bush, algo odiado e ridicularizado por muitos. E uma recente pesquisa mostrou que o Partido Trabalhista tem hoje o mais baixo índice de apoio em 19 anos, nove pontos percentuais menos do que a oposição conservadora.