Bispo paraguaio irrita Igreja ao desafiar colorados

O Partido Colorado, que está no poder de forma ininterrupta há 59 anos no Paraguai, tem seu predomínio seriamente ameaçado por um bispo, alvo de críticas da Igreja e do governo por abandonar o sacerdócio para ser candidato a presidente. Trata-se do bispo emérito de San Pedro – na região nordeste, uma das mais pobres do Paraguai -, Fernando Lugo, de 55 anos.

No dia 21, após meses de negociações políticas com outros partidos da oposição, ele renunciou ao ministério sacerdotal para disputar a eleição presidencial de 2008 como candidato da oposição. A renúncia é uma condição sine qua non para ser candidato, já que a Constituição paraguaia proíbe que um líder religioso seja presidente.

Isso causou polêmica. O bispo da diocese de Concepción (norte), Zacarías Ortiz, disse ontem à Rádio Uno de Assunção que Lugo ?está suspenso de fato?, mas não expulso, de seu estado clerical após ter renunciado ao sacerdócio antes de se dedicar à política. Ortiz acrescentou que a advertência canônica que Lugo recebeu do Vaticano antes de anunciar sua decisão foi um passo prévio a essa suspensão. Ele também disse que Lugo poderá ser sancionado pelo Vaticano com uma medida mais dura, como a expulsão ou a excomunhão se voltar a rezar missas ou realizar sacramentos.

Organização

Lugo liderará uma formação multissetorial – que, além de partidos conta com o apoio de organizações sociais e movimentos camponeses, organizações de sem-terra e de indígenas – para derrotar os colorados. A coalizão, que se denomina Tekojoja (?união e igualdade? em guarani), desponta como a primeira aliança sólida da oposição em várias décadas. Nas últimas eleições, os partidos opositores apresentaram-se divididos e foram facilmente derrotados pelos colorados.

O surgimento de Lugo como ameaça aos colorados é um duro golpe nas ambições do presidente Nicanor Duarte de mudar a Constituição para incluir a possibilidade de reeleição (ele anunciou que desistiu da reforma constitucional e apenas pretende ser candidato ao Senado). Segundo o presidente, Lugo é ?uma ameaça real à democracia, ao sistema vigente?.

A crítica mais dura foi feita pelo vice-presidente Luis Castiglioni, que classificou o bispo de ?farsante? e ?violador? das leis canônicas e da Constituição, acusando-o de orquestrar um projeto político um ano antes de se afastar formalmente da Igreja. Diversas pesquisas indicam que Lugo é o favorito nas intenções de voto.

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