Bispo, ongs e OAB pedem providências e garantia de vida para a população

"Nosso País tem que acordar, estamos chegando a um grau de demência no qual a
vida humana não tem mais valor nenhum", disse hoje o bispo da Arquidiocese de
Duque de Caxias, dom Mauro Morelli, sobre a chacina de ontem na Baixada
Fluminense. Ele contou ter passado a Semana Santa rezando missas em paróquias na
Baixada Fluminense e que naquele feriado 20 pessoas foram assassinadas num
bairro da região, sem que isso chamasse a atenção da imprensa e das autoridades
policiais.

"Clamo para que todos os poderes se unam para dar ao povo
garantias de vida", pediu o bispo, que criticou a disputa política entre as
esferas de governo. "Os governos disputam cadeiras", disse, acrescentando que a
briga por espaço deveria ser substituída pela elaboração de políticas públicas.
"Os políticos deveriam fazer um exame de consciência para saber se estão
servindo ao povo ou à sua ganância de poder."

Na opinião do coordenador
da ONG Justiça Global, Marcelo Freixo, a chacina na Baixada Fluminense, "uma
monstruosidade cometida por agentes públicos", não pode ser tratada como um caso
isolado. "(A matança) só se tornou um fato político porque todos foram mortos no
mesmo dia. Se matassem um a cada dia, não seria novidade", afirmou
ele.

Apesar de crítico contumaz do governo do Estado, Freixo elogiou a
rapidez com que a Secretaria de Segurança Pública do RJ admitiu a hipótese de
policiais militares (PMs) terem participado da maior chacina do Estado. "Eles
não vacilaram em admitir essa possibilidade. Antes, eles hesitavam mesmo quando
estava na cara, diziam que tinham que investigar mais, mesmo diante de todas as
evidências."

A Justiça Global, que produz todo o ano relatórios sobre a
violência policial, tem apontado o cerne do problema, segundo Freixo. A polícia
do Rio, de acordo com a ong, é a que mais mata no mundo, apesar de estar longe
de ser a mais eficaz. "A segurança é uma política da polícia, enquanto deveria
ser uma política de Estado", ressaltou. "Para ele, desde Vigário Geral (chacina
cometida por policiais em 1993, com 21 mortos) o problema da violência só tem se
agravado, criando na população um sentimento de intolerância, "de que tem mais é
que matar".

O problema, argumentou, é que numa situação como a de ontem,
quando inocentes são exterminados a esmo, a sociedade diz que não quer essa
polícia. "Talvez seja tarde demais."

O presidente da Ordem dos Advogados
do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), Octávio Gomes, lamentou a chacina, "um ato
bárbaro" que vem manchar a imagem do Rio de Janeiro. A OAB não aceitará a
impunidade, declarou. "Pior que o crime é a falta de punição", disse Gomes,
"porque o crime já foi cometido, mas a falta de castigo estimula a
violência".

O coordenador do Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes, pediu
solidariedade às famílias atingidas pelo massacre. "É preciso que elas não se
sintam sozinhas, que não foi só hoje que aconteceu", disse ele, que classificou
os assassinos como "terroristas", pois fazem com que a população tenha medo de
sair de casa "até para comprar pão".

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