Brasília – O bispo de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, que fez greve de fome para protestar contra as obras de transposição do Rio São Francisco, veio à capital federal para entregar um projeto alternativo para amenizar a falta de água no semi-árido nordestino. Segundo ele, o próprio presidente Lula havia lhe pedido, em audiência no Palácio do Planalto em dezembro de 2005, uma alternativa. ?Agora, a gente está apresentando uma proposta com menor custo ambiental e mais favorável à população pobre do semi-árido?, avaliou em entrevista na sede da Cúria Metropolitana de Brasília.
Na carta protocolada no Palácio do Planalto, dom Cappio sugere, em vez da construção de canais para desviar a água do Rio São Francisco, a revitalização do rio, a construção de cisternas para armazenar a água da chuva e a execução de 530 projetos da Agência Nacional de Águas (ANA) que, segundo ele, resolveriam os problemas de abastecimento hídrico no semi-árido brasileiro até 2015. ?Essas obras custariam R$ 3,6 bilhões e seriam mais baratas e eficientes que qualquer transposição hídrica?, destacou o documento.
Segundo o bispo, o diálogo proposto pelos movimentos sociais como alternativa ao projeto não é uma discussão apenas "ideológica". ?O debate vai se dar em torno de sugestões concretas, inclusive de órgãos oficiais?, ressaltou. Dom Cappio também negou querer atrapalhar o governo. ?Ninguém aqui está contra o governo?, disse. ?A gente quer apenas ajudar o presidente a administrar o projeto e comprometer-se com as reais necessidades da população.?
Para o religioso, o desvio de água do São Francisco, além de trazer impactos ambientais, trará benefícios apenas ao agronegócio. Segundo ele, o Ministério da Integração Nacional, que anunciou no último dia 14 a liberação de R$ 483 milhões para a transposição, atrelou a transposição à revitalização. ?A transposição não é a única maneira de acabar com os problemas do rio?, avaliou dom Cappio. ?Essa é uma desculpa do ministério para atender apenas às necessidades do capital.?
Na coletiva, foi anunciada uma série de mobilizações populares. Hoje (22), haverá uma manifestação em Belo Horizonte contra a transposição. No dia 12 de março, está programado um protesto em Brasília que deve contar com a presença de representantes do Comitê da Bacia do São Francisco e de movimentos sociais.
